terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dia 24 - O dia dos Namorados

Pois é, se repararem na data de hoje, vão concerteza notar que este dia é um dia diferente (quer dizer, não é bem um dia diferente, tem 24 horas como os outros, mas fica bem dizer que é diferente, por isso não reclamem), geralmente dedicado aos casalinhos apaixonados. Para os que vieram ter a este blog por acidente enquanto pretendiam aceder ao site da Al-Qaeda, falo claro do dia 14 de Fevereiro - Dia dos Namorados.
"- Muito bem, e o que é que tem o Dia dos Namorados de tão especial que mereça a tua atenção, 'Oh tu', seu nobre cruzado da sociedade, cuja santa missão consiste em alertar o mundo das conspirações sombrias planeadas por seres aparentemente inofensivos, como os terríveis pensionistas e os cruéis vendedores de farturas?"

E eu respondo:
Não sei. Como hoje me apeteceu escrever e o dia coincide com o dia dos Namorados, achei por bem referir este tópico.


Mas agora que penso nisso, o Dia dos Namorados tem mais que se lhe diga...
Para começar, quem foi o génio, a mente criativa que se lembrou de usar a imagem do cupido para retratar este dia? E porque é que foram pegar na imagem do pequeno infante e transfigurá-la para o adulto?

Sim, eu sei que a imagem do Cupido remonta à mitologia romana como sendo a personagem responsável por que humanos e deuses se apaixonassem, graças às suas setas e não-sei-quê... mas agora a sério, qual é a ideia de ver um tipo gordo, de fraldas, armado de arco e setas, a andar por aí aos saltinhos a espetar setas cor-de-rosa em qualquer casalinho?
Isso não é amor nem paixão, é assalto à mão armada.

Eu até consigo suportar a ideia do Cupido, mas o pior mesmo são as lojas de qualquer shopping nesta altura. É só olhar para a montra: Corações, corações e mais corações. Porta-chaves, canecas, t-shirts, peluches, porta-retratos, canetas, almofadas, postais, etc, etc... e etc... tudo, mas tudo, tem de ter lá um coraçãozinho vermelho, acompanhado pelo portuguesíssimo "I love you".

A sociedade, como não podia deixar de ser, aproveita estas alturas para ganhar dinheiro à custa dos pobres coitados que têm vida a menos e saldo no telemóvel a mais (eu sei que eles andam aí, mas ainda estou para conhecer algum).
E aí aparecem aqueles anúncios televisivos que agora estão muito na moda, aqueles: "Queres engatar, mas não sabes como? Envia já 'Engate' para não-sei-quê, não-sei-quê, não-sei-quê, não-sei-quê e receberás no teu telemóvel a frase que vai mudar a tua vida."
Para não falar daqueles anúncios no qual uma voz jovem e sensual diz "Queres conquistar? Envia já 'Kama' para tal, tal, não-sei-quê, não-sei-quê! E aí vemos as ditas imagens de posições presentes no livro Kama Sutra, recriadas por prestável casal.
Já estão a imaginar o tipo a chegar a um qualquer sítio onde se encontram geralmente jovens do sexo feminino fisicamente atraentes e a dizer, enquanto toca com os dedos dos pés nas orelhas:
" - Então, tudo bem? Já viram, hã? Eu consigo fazer estas posições estranhas! E ainda há mais, eu recebo todos os dias novas posições para experimentar! Não vos dá vontade de virem comigo efectuar acções de grande maluqueira carnal?"
Ao que elas respondem:
" - Não."
E então o jovem vai para a casa, para se dedicar à sua mini-plantação de ananases em calda, essas plantas da família das bromeliáceas, que guarda religiosamente (ou seja, com uma Bíblia em cima) debaixo da cama.

E ainda há mais, num esforço de concretização dos mais intímos desejos que assolam a mente de qualquer "loser"... ahem... pobre coitado, os tais centros de mensagem ainda se saem com estas:
"Queres conhecer pessoas novas? Envia já 'Get a life' para não-sei-que-mais, não-sei-quê, tipo-cenas, tal-e-coiso, e conhecerás montes de pessoas novas.

Querem realmente conhecer pessoas novas? Saiam de casa. Experimentem "falar" com outras pessoas, é capaz de funcionar.

Não tenho dúvida nenhuma que Eles, sim "Eles", foram responsáveis pela invenção de todo este flagelo que são os Centros de Mensagens, sim, esses antros de informação inútil, que vai desde as imagenzinhas idiotas de coelhinhos cor-de-rosa às letras das músicas de Marante e Nel Monteiro. (Estas últimas têm uma grande utilização na eliminação de guaxinins das habitações rústicas presentes nas colinas da capital da Samoa Ocidental, Apia.)
" - Mas porque é que o fizeram? "- perguntam vocês.
Se queres saber a resposta, envia já "Eu sou um gnu" para o Ah-lá-Ver, Portantos, Quer-Dizer, Não-Sei-Que-Mais, ou então atira-te de um penhasco abaixo amarrado a uma ventoinha cor de rosa a pilhas.


É capaz de não ser boa ideia...

===Altura de reflexão e, sejamos sinceros, lamechas do post===
É realmente necessário enchermos a nossa cara-metade de coraçõezinhos para lhe mostrarmos o que sentimos por ela?
As melhores palavras para mostrarmos o que sentimos não estão nos postais, mas sim dentro de nós ( Não, não me refiro a estarem ao lado do estômago, nem em cima da vesícula biliar, nem tão pouco 5 centímetros atrás do baço, aí está outra coisa - o quê ao certo, não sei, mas deve ser alguma coisa).

A todos aqueles que vão passar este dia na companhia da cara-metade, e aos outros que ainda não a encontraram, deixem lá isso dos coraçõezinhos, esqueçam os telemóveis, tenham um dia feliz e... cuidado com Eles.
===Fim da parte de reflexão e da lamechice===

Tenham medo. Tenham muito medo.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Dia 23 - Os escutas

É verdade, mais um dia que passou, menos um dia que falta para passar o próximo.
Hoje não tenho assim grande vontade de escrever, mas existem alturas em que a nossa vontade é esmagada por factos que nos obrigam a agir sem qualquer tempo para pensar, e os disparates falam mais alto que a razão e não sei quê que nos obriga a escrevermos e... já chega, vou calar-me.

Mas bem, como eu ia a dizer, há alturas em que damos por nós em frente a uma roullote de cachorros e as questões existencialistas mais profundas nos atingem de uma forma que nos obrigam a pensar e repensar sobre a nossa vida, ou se simplesmente queremos só mostarda ou só kechup no nosso cachorro.

Ora bem, há pouco tempo estava numa dessas situações e um daqueles enigmas que existem na sociedade, mas que ninguém fala dele, ocorreu-me à mente. Cá vai:

Escuteiros.

O que é que eu posso dizer sobre os escuteiros?

Os escuteiros intrigam-me. Não é por causa dos chapéuzinhos, nem por causa daquela roupinha que usam (bem, se calhar, é em parte), mas o que realmente me põe a pensar é aquele olhar deles... já repararam? Parece que tomaram uma quantidade de narcóticos que os pôs a ver elefantes roxos nas paredes e zebras daltónicas a jogarem xadrez com pinguins. ("Mas como é que consegues distinguir uma zebra daltónica de uma zebra normal?" - perguntam vocês. É fácil, é a zebra que não sabe com que peças jogar.)

Geralmente, a primeira imagem que temos dos escuteiros é a que nos é dada pelos filmes e/ou séries que vêm dos EUA, geralmente há sempre uma cena em que tocam à porta da casa dos subúrbios da "típica" família americana, e lá vemos a escuteirinha, de olhar inocente, a vender aquelas caixinhas das "típicas" bolachas americanas.
E um tipo começa então a pensar:
"Oh pá, é mesmo isto que eu gostava que me acontecesse. Já viste o olhar da míuda? A América é mesmo fixe, a América é 'daqui' (neste momento o indivíduo leva o indicador e polegar direitos à orelha)
Ao que outro indivíduo, presente no mesmo espaço do 1º indivíduo diz:
" - Olha, já paravas de fazer figurinhas parvas em frente à televisão e mudavas para o Canal Parlamento, não?"


Mas prosseguindo, isto dos Escuteiros tem mais que se lhe diga:
Eles até aprendem umas coisas catitas, tipo a fazer nós, construir tendas de palha, ajudar pensionistas a atravessar a rua sem ter a tentação de lhes roubar a bengala e os empurrar para debaixo de um camião TIR, e a conseguir andar no meio do mato de calções sem darem cabo das pernas (ora isso é que eu não me importava de saber).

Mas agora a sério, calções para ir para o mato? Camisinhas de manga curta? O que é que vocês andam a fumar?

E qual é a ideia dos pompons nas meias?
Eu tenho amigos meus que ou são ou já foram escuteiros, e eles dizem que "é muito bonito ser escuteiro, porque andamos lá pelo mato, e vamos fazer campismo para sítios muito bonitos e não sei quê, e há dias em que nos sentamos à volta da fogueira e cantamos o "Kumbaya" até serem, sei lá, 10 da noite! Vê lá tu a maluqueira, hã?!"
Pois, mas quando eu lhes pergunto sobre os pompons, eles dizem: "Ah e tal, isso dos pompons é uma cena de... bem, é tipo... coiso, porque... olha, eu acho que me estão a chamar ali..." e depois regam-se com gasolina e atiram-se da janela abaixo, só para disfarçar.

Mas ao que parece os escuteiros lusos também se saem com iniciativas de cariz solidário, e louvo-os por isso, mas era mesmo necessário fazerem aqueles calendários e porta-chaves? A sério, vejam lá isso... uma massagenzita, vá lá, ou até mesmo um número de malabarismo, isso até é giro... pensem nisso, vá lá.


Eu sei... foi fraquinho....

Bem, vou voltar para a cama.

Tenham medo. Tenham muito medo.