terça-feira, maio 29, 2007

Dia 41 - a queima

Hoje vou escrever sobre um evento muito importante, pronto... vá lá... muito marcante... quer dizer, se calhar não... bem, vou falar sobre um evento, é isso, "um evento" que decorre na vida de qualquer estudante. As denominadas "Queimas das fitas e tal". As pessoas que não são muito adeptas deste tipo de comemorações também podem ler isto, enquanto não optam por outra coisa mais importante para fazer (passar a ferro as unhas dos pés, ver repetidamente o "Titanic", à espera que o barco não vá ao fundo, bordar carapins e escrever num papel palavras que comecem pela letra "W" são opções viáveis).

E as duas pessoas que neste momento lêm estas mesmas palavras como quem sorve sofregamente as últimas gotas de água do copo num dia tórrido de Verão devem estar a pensar: "Mas a Queima já foi há algum tempo, porque é que só escreveste agora?"

Simples. Quis dar algum tempo para que a ressaca passasse.

Comecemos então:

Não, não vou perder palavras a dizer que a Queima é um evento que decorre durante uma semana, destinado a celebrar o final de um ano académico. Nem sequer vou mencionar que existe um recinto da Queima, ao qual deram o hiper-criativo nome de "Queimódromo", no qual existem "barracas" das faculdades cuja finalidade é atender aos desejos etílicos dos alunos que por lá passam...

Ah, e também há um palco com concertos... acho eu.

Em vez disso vou falar da verdade oculta por trás da Queima. Considerem isto o "Dark side" da Queima, o "O túnel secreto, a loja de horrores" e outros epítetos que o sr. Carlos Tê poderia atribuir. Por isso, preparem-se...

Bem, por motivos legais (sempre quis escrever esta expressão, até dá a impressão que isto é algo sério, não é?), não vou referir a denominada entidade que manipul... perdão, que organiza todo este evento. Por isso, em vez de me referir aos "puppeteers" como FAP - Federação Académica do Porto, vou só atribuir-lhe uma sigla, um pouco diferente, mas directamente associada - FDP.

Não posso dizer muito, porque tenho medo que eles um dia comprem o Google e mandem este blog para um sítio longínquo, tipo -

Escolher uma comparação:
a) Algo comparável às hipóteses do SCP ou qualquer clube abaixo do Douro ganhar um campeonato de futebol. (para os adeptos do futebol no geral. E no campo também)
b) O pico do monte mais alto de Oranjestad, mesmo ao lado da farmácia. (para quem gosta de viajar. E de farmácias.)
c) Um lugar perto da carreira do Nel Monteiro, ou seja, distante, escondido e possivelmente esquecível. (para quem gosta de música)

- mas cá vai:
-> Os FDP's são emissários d'Eles cujo principal objectivo é esgotar a nossa paciência e esvaziar a nossa carteira. Mas agora não me apetece falar deles, por isso vou falar de borboletas.

As borboletas são insectos da ordem Lepidoptera classificados nas super-famílias Hesperioidea e Papilionoidea, que constituem o grupo informal (ou seja, só roupa confortável) Rhopalocera. As borboletas voam. Os pássaros também voam. Mas os pássaros não são borboletas, porque são pássaros. Se um dia deixassem de ser pássaros, provavelmente não seriam borboletas. Mas estou convencido que não deixavam de voar, porque não é preciso ser pássaro ou borboleta para voar. Os peixes não voam, e essa é uma das principais razões porque nunca serão borboletas. Ou pássaros. Adiante...

Os estudantes estão directamente associados aos peixes. Porquê? Porque não fazem "bolha". Mas os peixes fazem bolhas. No entanto, se perguntarmos a um estudante o que ele faz durante essa semana, a resposta será algo semelhante a, e passo a citar: " Nada."

Os peixes também nadam. Mas deixemos os peixes sossegados. E os pássaros também.

O que é a Queima, verdadeiramente? Uma gigantesca quinta de formigas, daquelas que só vemos nos filmes. E a/o FDP é o miúdo com a lupa que vai apontando para cada um de nós e nos "queima" verdadeiramente, com os preços exorbitantes de tudo e mais alguma coisa.

Por isso, quero lançar um repto:

- Vamos partir a cabeça aos FDPs com canas de pesca e anzóis cor-de-laranja!!!

... não?

Pronto, vamos invadir a sede dos FDPs com toneladas de ATUNS! Sim, isto pode funcionar!

Se não resultar, pelo menos é "fish"... bah, piada má, esqueçam.

==== Parte mais, vá lá, séria do post ====

É fácil comparar a Queima à vida:
Um espaço cheio de gente, cada um a deambular perdido, mas sempre com uma meta, mesmo que essa meta seja "lugar nenhum". Postos espalhados por todo o lado, cada um a tocar a sua música, assim como as pessoas que, estando juntas, não deixam de "cantar" aquilo que lhes diz mais, às vezes para chamar a atenção de outros, outras vezes para simplesmente se afirmarem como aquilo que são realmente. E cada posto providencia o combustível que nos inebria, mas não nos faz parar de o querer. E lá no meio, num lugar central, estão os artistas que tocam para quem os ouve, mesmo que ninguém lá esteja. Mas está lá sempre alguém, para cantar com eles e às vezes só para os ouvir, da mesma forma que existem na vida as pessoas que seguem outras por sentirem da mesma forma a "música" ou porque lhes convém seguir os caminhos que essa melodia traça.
Arrumados a um canto, mas não menos visitados estão os postos onde vão parar os incautos que decidiram perder a sobriedade e/ou consciência a dado momento, postos esses que, com bastante paciência e dedicação recolocam o coitado no jogo da vida, onde todos jogam, mas nem todos lançam os dados.
E no final prosseguimos com a noção, não tão verdadeira quanto isso, que foi "a melhor semana de sempre", contando os dias para a seguinte... e pomos em segundo plano os excessos e abusos que pautaram os nossos passos por lá, e até nos rimos com isso. E ainda bem.


==== fim da parte, vá lá, séria ====

Outra coisa que me intriga. Aliás, é a coisa que mais me intriga. Apesar de tudo que a Queima comporta, tanto positivo como negativo, estamos sempre a evocar essa altura como a meta, o oásis, o escape de qualquer momento menos bom... e depois chega e... pronto.


Queima, até para o ano.

Tenham medo. Muito medo.

sexta-feira, maio 04, 2007

Dia 40 - "Até já"

Boas! Já faz algum tempo desde a última vez que escrevi, mas não me apetece gastar linhas com possíveis justificações, por isso vou passar já a dizer o que realmente interessa. Há algum tempo que estava com ideias de escrever sobre o fenómeno dos taxistas, mas isso terá de ser adiado para um outro dia, de modo a ser épico quando o escrever. Ou então algo assim para o razoavelmente mediano, dentro da classe dos textos "vá lá, fraquinhos" (não me enganei nas aspas, existe realmente uma classe com este nome. Onde? Não sei. Mas existe.). Hoje vou escrever sobre:

- As despedidas.

Calma, não abram já o champanhe, porque este não é o último post deste blog.

É verdade, a temática das despedidas tem suscitado alguma celeuma no meu intímo e, como já gastei a expressão inteligente para hoje, vou abster-me de abstraccionismos que, embora possam ficar muito bem num jantar de negócios, num encontro de filósofos, numa qualquer reunião do clube de fãs de Paulo Coelho, num cantar das claques de futebol (aproveito desde já para felicitar a inédita e inaudita iniciativa da claque principal do Yamoussoukro Sport Club - clube de matraquilhos da 3ª Divisão Regional B da Costa do Marfim - , iniciativa essa que consiste em citar passagens da "Metamorfose" de Kafka de forma ritmada, durante as partidas da sua equipa) ou até num "bibelô" bonito, daqueles de cerâmica com moldura de madeira, e vou passar a dissertar, e até discorrer, todos os meus argumentos relacionados com a temática das despedidas.

Geralmente associamos a palavra "despedida" ao término de algo, ao fim, ao desenlace, ao _____ (inserir um sinónimo qualquer aqui, de modo a "encher chouriços" com cultura). Mas o que me preocupa no meio disto tudo é a verdadeira razão das pessoas pensarem em "despedidas". Vamos a um exemplo, ou a uma quantidade enorme deles:

1. As despedidas de solteiro.
Nestes eventos é celebrado o fim da "solteirice" de determinado indivíduo ou indívidua (esta palavra deveria ser usada mais vezes). E como é que eles festejam? Bebidas, música e strippers, mais coisa menos coisa. Podia dizer mais sobre isto, mas deixo para um próximo post, dedicado exclusivamente a este evento.

2. As despedidas do emprego (ou seja, quando a pessoa ouve aquela frase tão simpática "Está despedido!").
Infelizmente estes eventos acontecem cada vez mais no nosso país, mas felizmente os portugueses são um povo bem-disposto e buscam o melhor destas situações, ou pelo menos uma forma de se abstrair dos problemas decorrentes de tal situação. E o que é que fazem? Recorrem às bebidas, à música e às strippers, ou/e preferencialmente uma combinação destes três elementos.

3. As outras despedidas
E arrumo aqui os exemplos - este abrange os outros tipos de despedida, nomeadamente a despedida de um grupo de amigos, a despedida da família quando as pessoas decidem emigrar... basicamente sempre que deixamos de conviver com determinada pessoa/grupo de pessoas afins ao mesmo ideal, e até mesmo com objectos aos quais conferimos um valor estimativo.

Eu conheço algumas pessoas que dizem não gostar das despedidas, porque isso implica necessariamente o fim de algo. Eu não partilho muito essa opinião. Quer dizer, é evidente que a saudade, embora só exista como palavra na língua portuguesa, é um sentimento universal e não podemos deixar de ficar um pouco tristes, mas o mundo não acaba necessariamente aí. Somos um ser social e precisamos dos outros para o nosso equilíbrio, mas se nos fecharmos sempre que nos despedimos de algo, nunca teremos a presença de espírito suficiente para deixar que os outros possam chegar perto de nós e dizer "Olá!". E o "Olá" (espero ganhar algum patrocínio por esta publicidade) é o começo de tudo.
E porque é que nos preocupamos tanto com a forma como fazemos as despedidas? Não é algo do outro mundo, se pensarmos bem, quando dizemos "Adeus" a alguma coisa, a nossa atenção focar-se-á obrigatoriamente em outras questões do nosso dia-a-dia. Dizemos "Adeus" a algo para dizer "Olá" a outras coisas. É claro que custa, mas por vezes os buracos mais difíceis de sair são aqueles que nós próprios cavamos. Por isso dá jeito ter sempre à mão uma escada e um telemóvel.

Na minha opinião, nós só fazemos as despedidas como um pretexto para dizer aquilo que sempre pensamos das outras pessoas, mas nunca dissemos, com medo de não ser bem interpretados. E porque é que não o dizemos mais vezes? Porque teimamos em ter medo de não saber como viver com isso depois, com a ideia que determinada pessoa sabe o que nós pensamos verdadeiramente dela... e isso é uma prova da nossa imperfeição. Podia falar das pessoas que pintam quadros de perfeição da pessoa da qual se despedem só para evitar pensar sobre ela e para evitar fazer frente-a-frente as críticas que sempre fez nas suas costas, mas essas pessoas não suscitam qualquer interesse da minha parte.

É óbvio que existem despedidas que não podemos evitar. A vida em sociedade é constituída por indivíduos, cujas vidas seguem ritmos diferentes, e é impossível acompanhar todos ao mesmo tempo, preservando o nosso ritmo pessoal. Em relação a essas despedidas, ficam os momentos partilhados e as lições que aprendemos e demos a aprender com o nosso convívio.





É um ciclo.





E hão-de existir sempre o álcool, a música e as strippers.



Até à próxima.




Tenham medo. Muito medo.




Mas não precisam de dizer adeus.