Já imaginaram como seria se vivêssemos num filme?
Aviso:
Nem vale a pena começar com aquelas abstracções do género: "Ah, mas vivemos. Vivemos no filme da vida, no qual somos todos actores e blá blá blá blá blá blá blá e tenho a capacidade criativa de uma paramécia...". Não.
Hoje vou revelar-vos um projecto para uma série que escrevi quando estava na primária. Tinha visto o Dick Tracy, e no intervalo para o lanche, entre uma banana e um yogurte de morango, escrevi num lenço de papel usado o primeiro capítulo, inspirado no formato de filme de detectives dos anos 70/80/90/00/e por aí fora dado que os detectives não mudaram a sua imagem desde a descoberta do fogo. Cá vai:
"Passavam algumas horas do meio-dia de ontem. O cheiro a tabaco teimava em agarrar-se ao meu velho sobretudo, companheiro de tantas aventuras. Ela bateu à porta, mas eu não liguei. A loucura deve ter tomado conta dos nós dos dedos dela, tanta era a insistência. E no intervalo de um pulsar, parou. A porta escancarou-se,e ela apareceu.
Loira como um poste telefónico pintado de amarelo, insinuou-se contra o aparador como uma hera trepadeira com paixão por aparadores. Eu não liguei, nem lhe quis dizer que aquilo era na verdade um aquecedor. Ela percebeu, tal foi o grito.
'Mas estamos em Agosto! Ninguém tem um aquecedor ligado em Agosto' - disse, numa declaração do óbvio, só superada pela miopia das toupeiras.
Pelos vistos era Ninguém naquela tarde com bocejos de manhã de Saturno. Intempestiva como um tornado, abandonou a pose e chegou-se a mim. O cheiro de rosmaninho com toques de lavanda inundou-me as narinas quando os seus cabelos cor de sangue roçaram no meu caderno A5.
- 'Que queres? A renda é só no dia 15, e não quero mais enciclopédias, são muitas letras e faz-me confusão. Prefiro o Sudoku.' A loira com cabelos ruivos começava a irritar-me. Sub-repticiamente estendi a mão direita à gaveta da secretária, onde o toque frio da minha fiel lanterna me esperava, como sempre, como dantes.
'Vamos ao que interessa. Tenho um problema e quero que me ajudes. E porque é que tens direito a um travessão quando falas e eu não?'
- 'Cala-te.'
'Estás a ver? Isto assim não é justo.'
E então contou-me o que se passava. O marido não lhe dava atenção, desde que a trocou por uma espiga de milho no Outono de 83. Ela sabia do que eu era capaz e queria a minha ajuda.
- 'Não trato de pipocas. O açucar entranha-se-me na roupa e aquilo deixa marca. Não tens um lenç...'
Interrompeu-me a palavra com um beijo. Enrolou a língua no meio das consoantes e vogais, dando ao alfabeto uma nova ordem anárquica com sabor a hortelã. Largou-me o rosto e pregou-me um estalo que me acordou no mês de Fevereiro, nu, numa praia do Bangladesh.
- 'Colgate?'
E nunca mais fui o mesmo."
Passados alguns anos, já consigo usar mais letras do alfabeto. O meu estilo mudou um pouco, ganhei um metro mas perdi muito juízo, em compensação.
Comentários, sugestões, insultos e contacto para editar livros e ganhar milhões, é na zona aqui abaixo, sim?
Tenham medo. Muito medo.
Aviso:
Nem vale a pena começar com aquelas abstracções do género: "Ah, mas vivemos. Vivemos no filme da vida, no qual somos todos actores e blá blá blá blá blá blá blá e tenho a capacidade criativa de uma paramécia...". Não.
Hoje vou revelar-vos um projecto para uma série que escrevi quando estava na primária. Tinha visto o Dick Tracy, e no intervalo para o lanche, entre uma banana e um yogurte de morango, escrevi num lenço de papel usado o primeiro capítulo, inspirado no formato de filme de detectives dos anos 70/80/90/00/e por aí fora dado que os detectives não mudaram a sua imagem desde a descoberta do fogo. Cá vai:
"Passavam algumas horas do meio-dia de ontem. O cheiro a tabaco teimava em agarrar-se ao meu velho sobretudo, companheiro de tantas aventuras. Ela bateu à porta, mas eu não liguei. A loucura deve ter tomado conta dos nós dos dedos dela, tanta era a insistência. E no intervalo de um pulsar, parou. A porta escancarou-se,e ela apareceu.
Loira como um poste telefónico pintado de amarelo, insinuou-se contra o aparador como uma hera trepadeira com paixão por aparadores. Eu não liguei, nem lhe quis dizer que aquilo era na verdade um aquecedor. Ela percebeu, tal foi o grito.
'Mas estamos em Agosto! Ninguém tem um aquecedor ligado em Agosto' - disse, numa declaração do óbvio, só superada pela miopia das toupeiras.
Pelos vistos era Ninguém naquela tarde com bocejos de manhã de Saturno. Intempestiva como um tornado, abandonou a pose e chegou-se a mim. O cheiro de rosmaninho com toques de lavanda inundou-me as narinas quando os seus cabelos cor de sangue roçaram no meu caderno A5.
- 'Que queres? A renda é só no dia 15, e não quero mais enciclopédias, são muitas letras e faz-me confusão. Prefiro o Sudoku.' A loira com cabelos ruivos começava a irritar-me. Sub-repticiamente estendi a mão direita à gaveta da secretária, onde o toque frio da minha fiel lanterna me esperava, como sempre, como dantes.
'Vamos ao que interessa. Tenho um problema e quero que me ajudes. E porque é que tens direito a um travessão quando falas e eu não?'
- 'Cala-te.'
'Estás a ver? Isto assim não é justo.'
E então contou-me o que se passava. O marido não lhe dava atenção, desde que a trocou por uma espiga de milho no Outono de 83. Ela sabia do que eu era capaz e queria a minha ajuda.
- 'Não trato de pipocas. O açucar entranha-se-me na roupa e aquilo deixa marca. Não tens um lenç...'
Interrompeu-me a palavra com um beijo. Enrolou a língua no meio das consoantes e vogais, dando ao alfabeto uma nova ordem anárquica com sabor a hortelã. Largou-me o rosto e pregou-me um estalo que me acordou no mês de Fevereiro, nu, numa praia do Bangladesh.
- 'Colgate?'
E nunca mais fui o mesmo."
Passados alguns anos, já consigo usar mais letras do alfabeto. O meu estilo mudou um pouco, ganhei um metro mas perdi muito juízo, em compensação.
Comentários, sugestões, insultos e contacto para editar livros e ganhar milhões, é na zona aqui abaixo, sim?
Tenham medo. Muito medo.
3 comentários:
Padrinho, até destas parvalheiras tenho saudades..
Preferia-as faladas, no meio daquela floresta, mas na impossibilidade disso acontecer tenho sempre este blog PARVO mas fantástico:)que me faz matar UM POUKINHO de saudades k sinto de uma das melhores pessoas do mundo!
Ai que saudades do Dick Tracy, da banana e do iogurte de morango... (que só de pensar na mistura, o estomago soltou um pequeno gemido...upa lala...afinal são gases)
Imaginava-me mais um cowboy á john wayne ou á clint eastwood... Do you feel lucky punk?
Mas normalmente não tinha tempo para passar para o papel, acontecia sempre algo antes de conseguir...batia com a cabeça na parede e acordava!!! Infância triste
Enrolou a língua no meio das consoantes e vogais, dando ao alfabeto uma nova ordem anárquica com sabor a hortelã.
Joka... isto é poético!
O workshop com o Markl fez-te (ainda mais) maravilhas
Kero um livro! :)
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