sexta-feira, agosto 15, 2008

Dia 54 - um mundo, um sonho. Ou dois.

Bem, não tenho muita certeza se será uma boa ideia escrever alguma coisa agora, mas como me apetece, cá vai:

Ultimamente não tenho dormido muito. E isto tem uma razão. Ou melhor, várias, sabendo que não tenho nada de útil para fazer. Mas falando do assunto em questão, existe algo que tem adiado a minha hora de ir para a cama. E falo, obviamente, dos jogos Olímpicos. Ora eu não sei se já o disse hoje, mas ainda não tenho a certeza se esta será a melhor altura para escrever sobre isto, dado que surgem na minha mente montes de piadas sem qualquer piada (estão a ver, tipo "Malucos do Riso") e que a vontade de as colocar aqui é bastante grande e a vontade de impedir que as escreva não é grande coisa. Do género "Não percebo porque é que às 3 da madrugada há tanta gente disposta a andar às cambalhotas e aos saltos dentro de um ginásio. Se fosse dentro de um quarto, nem diria nada, mas assim..." ou mesmo "Porque é que há tantos chineses a ganhar medalhas? E porque é que não vão trabalhar?"

Mas não, meus caros, o meu objectivo é apenas um: falar sobre esta cena dos jogos Olímpicos. Podia fazer um pequeno intróito (e lá se vai a licença para usar palavras caras) a explicar a origem destes jogos e podia escrever ainda pormenores dignos de alguém que estuda muito ou que sabe usar o google e a wikipédia, mas NÃO, desta vez vou apenas escrever sem mudar de janela, e se correr mal a culpa não foi minha, mas do browser.
Vamos a isso? Então vão indo que eu vou lá ter depois.

Ora bem, eu ouvi dizer há uns tempos que os jogos Olímpicos englobam cerca de 302 provas distintas e que para as quais há montes de países dispostos a ganhar uma ou mais medalhas. Existem três tipos de medalhas (feitas de ouro, prata e bronze), que são atríbuidas aos três melhores. E isto tudo deixa o mundo do avesso durante o período dos jogos, porque não há forma de escaparmos a notícias sobre os mesmos quando ligamos a televisão. Mas adiante...

Quero antes de mais dizer que gosto dos jogos Olímpicos. Acho piada ao conceito e concordo plenamente que se há um sítio em que um povo pode e deve impôr a sua superioridade sobre outro, nada melhor que um recinto desportivo, onde as regras do desportivismo e do respeito mútuo imperam, num cenário de igualdade de oportunidades. Ok, se calhar as coisas não são bem assim, mas vamos supor que sim, para que eu possa escrever alguma coisa.

A história, ou "quando é que se lembraram disto?":
Já toda a gente sabe que as Olimpíadas começaram na Grécia, com a finalidade de homenagear os deuses gregos. Isto tudo estava muito bem até um Imperador de nome Teodósio, se não me engano, decidir acabar com isso por ser uma manifestação pagã.

Uns anos mais tarde, lá para os finais do século XIX, o Barão Pierre de Coubertin decidiu relançar os jogos, e um amigo seu, de nome Didon, inventou o lema "Citius, altius, fortius" (Mais rápido, mais alto, mais forte). Em 1936 um ser medíocre e minúsculo de nome Adolph Hitler tentou acrescentar o princípio "Mais branco" ao lema, mas um atleta de nome Jesse Owens veio a provar que ele estava muito enganado.

Mas vamos ao que (não) interessa: existem algumas provas... vá lá, estranhas. Uma delas é uma prova equestre, a "dressage", na qual o cavaleiro anda com o cavalo de um lado para o outro, para a frente e para trás, da esquerda para a direita, ora a trote ora a fazer outra coisa que não sei definir. Não salta sobre nada, não corre contra mais ninguém, está sozinho num rectângulo de terreno a... andar. De um lado para o outro. Ah, e vai levantando as patas de forma ritmada. Eu só consigo perceber esta modalidade se for uma prova que os seres humanos conseguem ser mais parvos que os cavalos. Nota-se que o animal não quer estar ali, ele quer correr, saltar coisas, copular com éguas, aparar sebes, beber chá e comer biscoitos, e outras coisas que os cavalos gostam de fazer. Mas andar ali... não. Já imaginaram dois atletas olímpicos a conversarem, num momento de descanso:

Atleta 1: " - E então, rapaz, o que fizeste hoje?"
Atleta 2: "Nada de mais, corri os 200 metros obstáculos, qualifiquei-me para a final do lançamento do anão e acabei de sair das piscinas, onde fiquei em primeiro na prova '100 metros de pessoas que não sabem nadar'. E tu?"
Atleta 1: " Eu? Pois... estás a ver aquele rectângulo? Estive ali com o meu cavalo. A andar."
Atleta 2: " Ey... eu não consigo competir com isso." - (murmura para si mesmo) - "Vou só passear ali na carreira de tiro com um alvo na cabeça e já volto, ok? Até já..."

Há com certeza outros eventos que não fazem muito sentido, mas como eu não os conheço a todos deixo aqui a oportunidade ao caro leitor de denunciá-los. Basta deixar na secção de comentários, para que todos possamos rir a bom rir e passar um bom bocado, pode ser?

Mas por falar nisso (ou "por escrever nisso"), lembrei-me agora dos comentadores dos desportos olímpicos. De todos eles, alguns que até fazem outras coisas, porventura mais produtivas (mas quem sou eu para julgar?), existe uma senhora que costuma comentar as provas de ginástica. E aquilo é o epítome da categoria "pessoas chatas que percebem muito daquilo que comentam mas não sabem quando ficar caladas". Basta a/o ginasta fazer algo menos bem, ouvimos logo "E lá está, houve ali um erro, houve ali um erro, o ginasta falhou quando completava o triplo mortal encarpado à rectaguarda com dupla pirueta. Toda a gente viu, agora só se safa se se matar ou raptar um dos jurados. É que falhou mesmo. Não tem hipótese, a vida dela acabou."
Para o espectador normal, existem apenas duas categorias nas acrobacias dos ginastas: "Aquilo que não sou capaz de fazer, a não ser que me paguem mesmo muito ou que esteja muito bêbado para tentar" e "Aquilo que nem o menino Jesus ou o Eusébio são capazes de fazer". Para aquela criatura, a classificação é outra: "Aquilo que eu sei definir e deixar o espectador estarrecido com o meu brilhantismo" e "Aquilo que não existe". Minha cara, deixo-lhe o meu humilde conselho: CALE-SE!

Avanti...

Há uma pergunta que assoma à minha mente, qual bolha de ar ansiando por chegar à superfície da água: O que torna um desporto numa prova olímpica? Bem, provavelmente existem algumas pessoas cujo propósito é mesmo esse, e caso essas mesmas pessoas tenham acesso à Internet e tenham vindo parar aqui por engano, deixo algumas sugestões para novos desportos olímpicos, nos quais tenho quase a certeza que conseguiríamos algumas medalhas. Principalmente porque acho que os desportos da era moderna devem representar as actividades físicas do Homem contemporâneo.

Matraquilhos:
- Se já existe o ténis de mesa, o próximo passo lógico seria adoptar o futebol de mesa. Tenho a certeza que atletas não iriam faltar. Imaginem:
"Estamos agora na fase de 'perde-paga', os atletas já ocuparam as suas mesas, cumprimentaram os adversários, escutaram os hinos e receberam os 5€ em moedas de 50 cêntimos. Vamos ver qual das equipas chega ao final da competição com mais dinheiro."
Não são necessários árbitros para julgar lances duvidosos, faltas, agressões, foras-de-jogo e afins, porque há muitas garantias que o "meco" não vai sair dali. E se existirem as "roletas", basta tirar um "meco" e continuar, está feito.

100 metros Zapping
- Equipas de apenas um elemento, um sofá com rodas, uma televisão com rodas e um comando. Quem chegar à meta primeiro e conseguir mudar mais vezes de canal ganha.

SMS'ing
- Um telemóvel. Um tarifário de 1500 sms semanais à borla. Uma "pita". A primeira a esgotar as mensagens com informação inútil ganha (uma chapada e um "Vai 'masé' trabalhar" a altos berros - diz o meu Arnoldo.). O "sms'ês" é punido com penalizações e vários tiros de caçadeira.

Triatlo Tuga
Os três desportos seriam: 1,5 Km de Fila de espera para consulta médica, 40 Km's Carjacking, e 10 Km's de Fuga aos impostos.

Luta greco-romana... com facas... no escuro.
Este eu pagava para ver. Ou não ver.

=== parte crítica do post, saltar se não tiver paciência para ler ===

Outra coisa que me irrita solenemente são aqueles comentadores de sofá que, só porque uma prova correu menos bem, se saem logo com comentários do tipo: "Eu já sabia, já sabia! Está aqui um tipo a ficar acordado até às tantas e a esperar tanto dele, e faz-me aquela porcaria... rais' parta o homem! Tem algum jeito, podia estar tão bem a coçar o escroto e estive aqui a perder o meu tempo..." E esquecem-se que aquele "desgraçado" sacrificou grande parte da sua vida para poder estar ali, provavelmente a treinar em circunstâncias muito inferiores às dos adversários e com um salário microscópico.

Mas se porventura a bandeira portuguesa chega ao pódio, todos nos sentimos parcialmente responsáveis por aquele triunfo. "Foi o nosso apoio", "Somos os maiores". E depois vemos o nosso representante político a cumprimentá-los e a tirarem-se fotos com a medalha, foto essa que será emoldurada com os sorrisos amarelos dos múltiplos lambe-botas que só aparecem quando as coisas correm bem. E o atleta tem de aturar isto, porque no fundo espera que depois se lembrem dele e dos outros "anónimos", que são obrigados a ir para outro país treinar, só para terem condições de chegar às medalhas.

Com franqueza, vamos apoiá-los, quer tragam medalhas ou não. Só por serem portugueses já merecem medalhas de ouro. Para penhorá-las e pagar as dívidas.

E outra coisa... é vergonhoso ver que interesses políticos mancham um evento que tem como objectivo juntar as nações do mundo sob a égide da união e do respeito mútuo. Seres humanos morreram enquanto os seus representantes desportivos competiam respeitosamente e se cumprimentavam no final. As "tréguas olímpicas" são um mito que só não tem sido quebrado mais vezes porque... não tem calhado.

E já agora... para quê limitar as tréguas a um período?

E não acham que já chega de hipocrisia? A palavra Tibete... significa alguma coisa?

=== fim da parte crítica ===

Concluindo, da maneira que os recordes mundiais vão sendo quebrados, tudo me leva a acreditar que daqui a uns anos vão existir montes de super-homens e super-mulheres. Dos actuais 16 dias que dura a competição vamos passar a ter 3 dias de JO, porque eles tratam daquilo tudo num instante. E ainda limpam no final e arrumam tudo direitinho...




ou talvez não.




Bem... acho que vou mesmo dormir...



P.S.: Ah... e nem me façam falar da marcha...

Tenham medo. Muito medo.