terça-feira, junho 12, 2007

Dia 43 - M&Ms - marchas e martelos

Não estava para escrever hoje, mas quando estava a jantar, em pleno parque da Cidade ao luz das velas e com um rádio a pilhas sintonizado numa rádio qualquer lembrei-me que tinha deixado a máquina de lavar a roupa ligada e a janela do Windows aberta, e como não gosto de beber sumos de fruta em pó decidi ir a pé.

Depois de recuperar a consciência, decidi escrever alguma coisa por aqui.

Hoje vou falar sobre as marchas populares. Cá na terra onde moro, não são tão populares assim, por isso já começamos mal. Senhores que dão nomes a eventos e também os que se chamam Tó, é um bocadinho de presunção deduzir que por determinadas coisas serem conhecidas no sítio onde vocês moram são directamente merecedoras do epíteto de "Popular". Se se chamassem... deixa ver, "Marchas-um-bocadinho-conhecidas-no-sítio-onde são-feitas-e-que-por-acaso-até-dão-na-televisão", eu até nem faria reparo nenhum, mas assim... vejam lá isso.

Mas não era isto que eu queria dizer. Se por acaso este texto vier parar às vossas mãos numa exclusiva e raríssima edição escrita a lápis em papel A4 quadriculado, podem apagar esta parte. A borracha.

As marchas populares têm algumas coisas que me intrigam. Bastantes, até.

Primeiro, a ideia dos manjericos. O manjerico é uma planta com um aspecto semelhante ao cabelo do Marco Paulo nos seus tempos áureos, mas verde. E esta é uma das poucas plantas com regras muito rigorosas. NÃO se pode CHEIRAR DIRECTAMENTE o MANJERICO! Uma vez um amigo meu ousou cheirar, tocando com o nariz num manjerico, assim mesmo "tête-a-tête", ou melhor, "nez-a-manjerique", e 3 pessoas que por ali estavam pararam tudo que estavam a fazer na altura e olharam para ele como se ele fosse o Anti-Cristo, ou pelo menos alguém muito intímo de tal personagem. A senhora que estava a vender os manjericos chegou ainda a pegar num dos vasos maiores que tinha e ameaçou atirá-lo à nossa cabeça com alguma violência.

Qual é o problema de cheirar o manjerico? Porque é que só podemos saber o cheiro daquilo através das mãos?
Se eu perguntar isto a alguém mais velho, provavelmente vão dizer algo do género "Dá azar" ou então "Isso murcha a planta". Esperem aí... para crescer aquilo leva com ADUBO e fertilizantes, ou seja - BOSTA - em cima , e não podemos pôr lá o nariz?

E porque é que há pessoas que insistem em passar com a mão em todos os manjericos que lhe aparecem à frente? Cheira tudo à mesma coisa. Acreditem em mim, após uma pesquisa intensiva de 20 segundos no Google e na minha dispensa cheguei à conclusão que não existem plantas obscuras que, devido a padecerem de complexos de inferioridade plantar, se disfarçam de manjericos para serem apreciadas por alguém muito constipado. Isso só acontece com as begônias-folha-de-mamona. Com as outras não.

Podiam inventar um perfume com extracto de manjerico para poupar as plantas... uma espécie de "CK TUGA", que tal? Provavelmente alguém vai lembrar-se disto e fazer milhões... e não vou ser eu.

E quem é que se lembrou da ideia de pôr quadras em papelinhos para espetar na pobre da planta? Ok... é provável que seja a única oportunidade para alguns aspirantes a poeta... pensando bem, escrever para plantas até nem me parece muito parvo... cá vai:

"Oh meu querido Santo António,
nesta quadra popular,
arranja aí um saco de gelo,
para pôr na zona lombar"

ou então:

"Entre santos e Santinhas
de broa e sardinhas na mão
Orienta aí uma moçoila
De preferência, um avião"

e:

"Ontem fui à farmácia
Desconfiava de uma otite
Mas afinal era engano
Era apenas sinusite"

se calhar:

"Estava cheio de fome
E eram horas da ceia
Comi 3 cachorros seguidos
E comprei "Imodium" para a diarr...

- não, risquem esta -

Podia-se fazer muito melhor no campo da poesia para espetar em plantas.

Ah, e outra coisa...

As marchas populares, como já se sabe, são típicas da cultura lisboeta. Os homenzinhos e mulherzinhas usam aquelas fatiotas que representam algumas profissões já extintas da cidade e dão o seu tributo às varinas, aos pescadores e a outras personagens típicas da Lisboa de antigamente. Há no entanto ali lacunas que precisam de ser revistas (ou então magazines) e, se possível, colmatadas. O tema das profissões de antigamente não é mau, mas podiam fazer um "refresh" aí a essa cena... porque não uma Marcha dedicada inteiramente à Sueca e ao Dominó? Ou então um tributo ao Arrumador - essa profissão em vias de extinção - Convidavam o Filipe La Féria e ele fazia uma cena em grande...

E acho também que deviam acrescentar à lista novos bairros... porque é que, para além das Marchas de Campolide, Madragoa, Carnide, Lumiar, Alfama, Bairro Alto, Marvila, Benfica, Mouraria e Alcântara, entre outras, não dão lugar às Marchas da Buraca e Cova da Moura, por exemplo? Era giro ver pessoal a marchar ao som de Kuduro ou Kizomba. A sério.

Decerto haveria muito mais a mudar em Lisboa, mas há outras coisas interessantes e intrigantes noutras zonas de país.

O Porto, por exemplo.

Cá em cima temos o São João. E o que é que se faz no S. João. Primeiro apanha-se a "farda" ao jantar e depois vai toda a gente para a Ribeira ver o fogo de artifício à meia-noite. Depois do fogo, anda-se. Há quem se dirija para a zona do Castelo do Queijo, mas o destino não interessa. O que interessa é andar. Até chegar a manhã. Nessa altura geralmente já se está sóbrio o suficiente para procurar saber onde se está e aí já se pode voltar para casa.

Até aqui, tudo bem.

Mas e os MARTELOS?

Porventura existirá alguma história repleta de acuidade e com motivos plausíveis para a existência do Martelo de S. João, mas eu acho que nem tudo surge por um motivo, portanto, como é que hei-de dizer isto... pronto, sério. Deve ter sido algo do género.

"Pessoa anónima, mas muito influente (PAMMI)- Hoje é dia de S.João, vamos regozijar!

Pessoas influenciadas pela pessoa influente, também anónimas (PIPPITA)- Yupi.

PAMMI - Há no entanto,algo no meu ser que me deixa com a sensação de vazio. Algo falta nesta época tão especial.

PIPPITA - O que é que falta?

PAMMI - Apetecia-me andar com alguma coisa na mão... já sei! Vou buscar o martelo para andar a espancar todas as pessoas que por mim passarem nesta noite tão especial!

PIPPITA - Vamos todos!! Yupi outra vez!!"

E foi assim... com o tempo apareceu outra pessoa, esse sim, um verdadeiro génio, que se lembrou de fazer martelos em plástico... e isso reduziu drasticamente a taxa de mortalidade no S. João.

Em relação ao Alho-porro, também tradição no S.João do Porto, isso é parvo.

E porque não juntar algumas coisas de ambas as metrópoles? Tipo, marchar lá com arcos e balões ENQUANTO se é perseguido por tipos armados de martelo atrás? Era giro... dava um ar mais espartano à coisa... e não era preciso existir um júri para decidir quem era a melhor Marcha - quem sobrevivesse, ganhava.
O Darwin haveria de concordar comigo.

Se desse na cabeça ao pessoal do Norte adoptar as Marchas populares, o nosso espectáculo seria diferente. Em alguns bairros do Porto, por exemplo, Bairro do Cerco, Bairro da Pasteleira, Bairro de Contumil ou até o Bairro de S. João de Deus, para além dos andrajos, teríamos de certeza personagens diferentes. À frente do desfile teríamos um cordão policial. E atrás teríamos alguém para recolher os pedaços que as pessoas fossem perdendo ao longo do caminho.

E no fim, quem ganhasse tinha direito à liberdade condicional...

Pensando bem... provavelmente não seriam Marchas. Seriam rusgas, mas com música.

É claro que existem pessoas que não têm culpa nenhuma da relação dos vizinhos com a Lei e até fazem a sua vida sossegados sem causar problemas a ninguém, e dentro desse grupo de pessoas estão algumas que não têm qualquer sentido de humor e que preparam neste motivo um comentário insultuoso à minha pessoa ou até mesmo à pessoa da minha iguana (que lhe ofereci no Natal do ano passado... é um haitiano que mora na cave da gaiola dela e que lhe faz chinelos em serapilheira muito jeitosos)... por isso fica aqui este pequeno texto a explicar que não tenho nada contra essas pessoas... mas sim contra os panascas que não moram em qualquer habitação providenciada pela Câmara e só pensam em chatear.

E porque é que não existem Marchas populares dos Bairros... fiscais? Tipo, com os senhores das Finanças todos empoleirados com roupa colorida e a exibir à cidade as folhas azuis de 25 linhas carimbadas com um verso todo catita... é que eles merecem. Pensem bem, os senhores e senhoras que trabalham nas Finanças têm uma vida... chata. Vocês já foram a alguma repartição? Aquilo é o "tédio" personificado (ou "edificado" porque as Finanças não são uma pessoa, geralmente estão num edifício). A coisa mais bonita e estimulante de uma repartição de Finanças são as máquinas distribuidoras da água. Aquele garrafãozinho virado ao contrário com as duas torneirinhas coloridas em baixo é um oásis no meio daquele império do cinzento. Mas sobre o fenómeno das repartições eu falo um dia destes.

E para finalizar... para quando uma Marcha... fúnebre? Assim uma cena mesmo Tuga... o pessoal todo de preto, de velas na mão a cantar incessantemente... estão a ver? Tipo procissão, mas sem o andor e com letras dos Mão Morta. Seria lindo.




Tenham medo. Muito medo.

segunda-feira, junho 11, 2007

Dia 42 - Antigamente...

Ora bem, hoje apetece-me escrever sobre muita coisa... mas é capaz de ser complicado, porque com o Verão e tal as pessoas começam a ficar mais desocupadas e a probabilidade disto ser lido por pessoas que têm capacidade de me causar maleitas físicas indiscriminadamente de modo a deixar marcas que não ficam muito bem em fotos de família, e também impossibilitar a movimentação do indivíduo visado (ou seja, eu) sem que este expresse o seu sofrimento com sentidos "Ai"s e outras onomatopeias que reflictam a dor que sente, principalmente na zona do baixo-ventre. Aí dói.

Mas adiante, como sou um tipo afecto às cenas radicais, vamos a isto. Hoje vou falar sobre as séries de entretenimento dedicadas ao público mais jovem. Não, garanto-vos que não vou falar de séries com frutas no título.

Já repararam na diferença entre as séries de agora e as de, vá lá que também não sou assim tão velho, de há 15 anos atrás?
Há 15 anos atrás, tinha eu 7 anos, era viciado, mas mesmo colado, numa série que tinha por nome "Saved by the Bell", ou em português, "Já tocou". É provável que quem esteja a ler isto não faça a mínima ideia do que falo (o que não é novidade, eu digo muita coisa estú... pronto, vá lá, parva), por isso vou tentar resumir em que consistia:
Era o dia-a-dia de um grupo de estudantes do secundário. 3 rapazes e 3 raparigas eram os principais protagonistas. Para os acompanhar havia ainda o director da escola e outras personagens típicas de um liceu americano. Os protagonistas reflectiam as tendências ainda hoje visíveis de qualquer série americana, ou seja, existia pelo menos uma personagem de uma "minoria" étnica qualquer. Por isso tínhamos um rapaz de ascendência latino-americana e uma jovem afro-americana. E os outros eram os típicos estereótipos: o jovem loirinho, a rapariga com ar de "cheerleader", a "Patinho feio", ou seja, a mocinha "não tão bonitinha" que mais tarde se revela um cisne todo jeitoso. Ah, e ainda havia o clássico totó. Eu podia referir os nomes, mas isso não ia adiantar de nada, porque quem se lembra sabe de quem falo e quem não se lembra não quer saber.

E pronto, a ideia não era nova, o tipo de série também não, mas estes ingredientes faziam com que este vosso tipo, então petiz sem juízo, esperasse ansiosamente pelas 16h13 para mudar para um canal da televisão cujo número é inferior a 5 e superior a 3. E durante aproximadamente 30 minutos nada podia tirar-me da frente da televisão, salvo um possível fim do mundo, mas mesmo isso não seria um problema, desde que fosse durante o intervalo.

Vamos lá a ver... comparando as séries dessa altura com as de hoje, eu chego a duas conclusões:
- As noções de beleza e de bom aspecto de um puto de 7 anos, principalmente nos primeiros anos da década de 90, não são as melhores. Eu achava que as raparigas eram de facto muito "giras" (uma palavra apta para aquela idade).

Atenção, elas eram mesmo, ainda hoje são (Tiffany Amber-Thiessen... não digo mais.) ... mas a roupa... estamos a falar de uma altura em que a moda para as raparigas eram aquelas meias que cobriam as sapatilhas, como se tivéssemos assassinado à patada um bicho qualquer de algodão e andássemos com os restos nos pés, como um troféu para todos verem. E se acrescentarem a isto tudo o fenómeno dos casacos de couro com CHUMAÇOS nos ombros, então aí já dá para perceber que havia ali algo de estranho.Eu acho que essas cenas são uma herança dos anos 60... muito LSD e outras cenas que fazem rir naquela cabeça...

O que me intriga sobre como olharemos daqui a uns anos para as séries de hoje.... "Geez, usava-se isto?!"

Pronto saltemos esta parte... falar muito de moda tende a deixar-me meio estranho... fico com medo que de repente apareça um tipo de não sei onde com pentes e tesouras na mão, cheio de pressa a dizer palavras afrancesadas e a cheirar a 8 ou 9 perfumes diferentes e com menos pêlos faciais que a Sinead O'Connor. Esses tipos assustam-me. Não sei, há qualquer coisa numa pessoa com latas de laca suficientes para iniciar sozinho uma guerra biológica que me deixa com algum medo. É que alguns deles também fumam... se um dia aquilo calha mal...

E qual é a outra conclusão?
Não sei. Na altura pareceu-me que apenas uma conclusão não seria suficiente e por isso disse duas... mas agora deixem-me pensar em qualquer coisa.






Ah, já sei.

A outra conclusão é:
- As séries de antigamente tinham alguma coisa que viciava o espectador. Quem não se lembra do Knight Rider? E do Macgyver? E do Esquadrão Classe A? E as corridas em câmara lenta das "Marés Vivas"? Até podem nem gostar, mas quase de certeza que todos já vimos pelo menos um episódio de qualquer uma destas séries, ou até de outras das quais não me recordo neste momento, mas que também marcaram a memória televisiva de cada um. Não me interpretem mal, hoje em dia também existem muitas séries catitas, mas as de antigamente não tinham os meios técnicos que as de hoje e ainda hoje as vemos com "aquela" nostalgia e preparamos o nosso discurso paternalista para com os mais novos, a dizer coisas do género: "Ah... naquele tempo é que se fazia televisão com qualidade... nham nham (mastigar em seco fícticio, já a preparar a fala característica dos indíviduos portadores de próteses dentárias)".
Mas a verdade, caros leitores, é que as séries nem eram assim tão boas. Algumas eram até bem fraquinhas... mas não havia nada melhor. É como hoje.

A maior parte das pessoas da minha idade (22 e tal) passou, nem que fosse ao de leve, pelos anos 80 e esteve uma boa temporada nos anos 90... e muita coisa mudou desde então:
- O então "mito" da Internet é hoje uma banalidade e os putos já nascem com um manual incorporado que permite mexer em tudo que é coisa com botões (nem que seja a camisa).
- Os telemóveis passaram de armas de arremesso a porta-chaves.
- Andamos com pendisks e leitores de Mp3 no bolso que têm a mesma capacidade de armazenamento que dois ou três super-computadores de há 15 anos atrás e que dão para ouvir o equivalente a 8 ou mais cds de músicas.
- E outras coisas que não tenho paciência para estar a enumerar agora...

Mas há muita coisa que está na mesma... o Canal Parlamento, por exemplo, continua com a mesma qualidade.

É claro que existem mais cenas que até fazem sentido e que podem atrair pessoas fãs de textos profundos com mensagens intricadas cujo objectivo é mudar o nosso interior e acreditar que podemos fazer a diferença se salvarmos as baleias e os pinguins e as focas e libertarmos os animais que se transformam em capachinhos (não sei o nome dos bichos)... só que esses não têm piada e são para os blogs que perdem as suas linhas com tretas existencialistas... naa... isso não é para mim... por isso vou deixar a minha iguana azul-escura escrever as próximas linhas.

=== Cena inédita no panorama bloguístico ===

Hã... isto é parvo.

=== fim da cena ===


Para primeira vez até nem foi mau.

Ah, e lembrei-me agora... recordam-se de uma música de finais dos anos 80, cantada por uma tal de Claudie Fritsch-Mentrop, música cujo nome era "Voyage voyage"?



Não, pois não?





Pois...






eu também preferia não me ter lembrado.






Aquela cena na cabeça...






Tenham medo. Muito medo.