terça-feira, novembro 04, 2008

Dia 57 - Não era nada...

Hoje vou escrever sobre qualquer coisa.

Era uma vez - quantas vezes não leram esta expressão num livro? Provavelmente apenas um par de vezes, se fizerem parte da grande maioria de jovens cuja principal leitura diária se resume às mensagens do telemóvel, mas deixemos as críticas para um dia em que me apeteça fazê-las e a vós vos apeteça ouvi-las (ou seja, um período de 15 minutos perdido algures entre a segunda semana da Guerra Civil Espanhola, em 1936, e Setembro de 1958). Mas como dizia há pouco, não são raras as vezes em que nos deparamos com a expressão "Era uma vez". Não é a única: "E viveram felizes para sempre" também teima em estar no fim dos contos de fadas. E é aí que reside o busílis da questão. As fadas não existem. Seguindo a lógica, se os finais felizes estão directamente ligados a algo que não existe, logo... não existem. Mas desde quando é que a lógica faz sentido, hoje em dia?

Seguindo o post prévio, hoje vou fazer um conto de fad... perdão, de "seres imaginários cuja única concretização foi um utensílio doméstico que serve para fazer sopa, ou vá lá, seres que são directamente associados a pessoas que consomem bebidas esverdeadas de forte teor alcoólico":

Título: O Rato Azul

Era uma vez (já está, já se qualifica como uma história que se pode ler aos miúdos antes de irem para a cama) um rato azul, de pêlo verde como a neve. Pois é, meus amigos, este era um rato especial que mudava de cor conforme o adjectivo. E este pequeno roedor, para além de não falar, viver num esgoto e transmitir doenças, era bom rapaz. Porque tinha amigos. Que morreram sufocados quando um gentil senhor de máscara e fato branco espalhou um dito "pó mágico" nas suas habitações. Mas ele não se queixava, porque haviam fortes suspeitas que não tinha sido ele a morrer.

Um dia, o nosso amigo decidiu emigrar para comprar um esquentador. No caminho para o supermercado, lembrou-se que não tinha trazido a carteira. Ao regressar a casa encontrou um pau de vassoura que insistia em dar uma nova decoração à sua habitação, um estilo minimalista com influências de "Ragnarok". "Deve ser francês", pensou. Mas não era, era pinho. E ali nasceu uma bela amizade.

Entretanto, a rainha má conspirava no seu castelo, junto do seu conselheiro, também bastante desagradável. Ela sabia que, apesar de saber fazer planos plenos de complexidade, por si bastante maléfica, as coisas não iam acabar bem para ela, porque conhecia o escritor do conto e devia-lhe dois jantares e uma massagem nas costas. O seu conselheiro (que era bem ruim) nutria uma secreta afeição pelo interessantíssimo mundo do macramé e lamentava o tempo que a elaboração de planos conspirativos (e também maldosos) consumia. "A passamanaria é coisa para meninas e conselheiros sem ambição", dissera-lhe a sua mãe quando era pequeno, mas ele não ligou.

== Pausa para tomar café e ponderar sobre a hipótese de fazer uma história curta ou algo épico que gaste meia Amazónia em papel.==

Para ser ainda mais inovador, vou deixar aqui algumas opções para o desenlace deste conto, a mais votada... fica com mais votos.

Opção a):
Alheado de tudo o que se passava no parágrafo anterior estava o nosso roedor herói, cujos feitos iriam ficar para a história, ou talvez não. Passados uns anos, descobriu que era raçado de um rolo de tinta e que o pau de vassoura era seu primo em 3º grau. A rainha tentou convencê-lo a integrar a força de combate aos Domingos, mas ele não estava em casa quando ela lá foi e nunca mais se encontraram. O conselheiro mudou de nome para "Adalberto";

Opção b):
O rato azul decidiu um dia experimentar o poder do diluente e passou a ser conhecido como o rato "flambé". Os vizinhos não gostaram e, como forma de protesto, deixaram de usar a palavra "fiambre". A rainha má abandonou o seu plano maquiavélico, fez uma cura de sono e pediu asilo no Perú, onde hoje é a protagonista principal do musical "Porque não me dás um chuto?", uma adaptação do romance homónimo, escrito por alguém que sabe escrever. O ex-conselheiro outrora maléfico, malévolo e ruim foi comprar tabaco e esqueceu-se que não fumava. A sua última frase foi: "Não vos cheira a gás?";

Opção c):
O pau de vassoura transformou-se num príncipe encantado após receber um ósculo de um spray de Pronto. O rato expulsou o pau de casa, rapou o frontispício e foi ao dicionário para saber aquilo que acabara de rapar. Passados quinze anos, mudou definitivamente de cor para verde com reflexos fucsia. A rainha e o conselheiro não tiveram nada a ver com isso.

Opção d):
O rato, o pau de vassoura, a rainha e o conselheiro descobriram que faziam parte de um conto de "seres imaginários que blá blá blá blá e blá", foram até casa do autor e deram-lhe um enxerto de porrada.

Ah, e viveram felizes para sempre;

Algo me diz que isto não vai ter muito sucesso...

Tenham medo. Muito medo.

É verdade, sabiam que esta expressão com a qual remato os textos deriva de uma frase do filme "The Fly", de 1986? ==> Esta informação é gentilmente patrocinada pelo Google que, apesar de estar cheio de guito, não me dá nenhum...

quarta-feira, outubro 08, 2008

Dia 56 - Podem saltar este.

Já imaginaram como seria se vivêssemos num filme?

Aviso:
Nem vale a pena começar com aquelas abstracções do género: "Ah, mas vivemos. Vivemos no filme da vida, no qual somos todos actores e blá blá blá blá blá blá blá e tenho a capacidade criativa de uma paramécia...". Não.

Hoje vou revelar-vos um projecto para uma série que escrevi quando estava na primária. Tinha visto o Dick Tracy, e no intervalo para o lanche, entre uma banana e um yogurte de morango, escrevi num lenço de papel usado o primeiro capítulo, inspirado no formato de filme de detectives dos anos 70/80/90/00/e por aí fora dado que os detectives não mudaram a sua imagem desde a descoberta do fogo. Cá vai:

"Passavam algumas horas do meio-dia de ontem. O cheiro a tabaco teimava em agarrar-se ao meu velho sobretudo, companheiro de tantas aventuras. Ela bateu à porta, mas eu não liguei. A loucura deve ter tomado conta dos nós dos dedos dela, tanta era a insistência. E no intervalo de um pulsar, parou. A porta escancarou-se,e ela apareceu.

Loira como um poste telefónico pintado de amarelo, insinuou-se contra o aparador como uma hera trepadeira com paixão por aparadores. Eu não liguei, nem lhe quis dizer que aquilo era na verdade um aquecedor. Ela percebeu, tal foi o grito.

'Mas estamos em Agosto! Ninguém tem um aquecedor ligado em Agosto' - disse, numa declaração do óbvio, só superada pela miopia das toupeiras.

Pelos vistos era Ninguém naquela tarde com bocejos de manhã de Saturno. Intempestiva como um tornado, abandonou a pose e chegou-se a mim. O cheiro de rosmaninho com toques de lavanda inundou-me as narinas quando os seus cabelos cor de sangue roçaram no meu caderno A5.

- 'Que queres? A renda é só no dia 15, e não quero mais enciclopédias, são muitas letras e faz-me confusão. Prefiro o Sudoku.' A loira com cabelos ruivos começava a irritar-me. Sub-repticiamente estendi a mão direita à gaveta da secretária, onde o toque frio da minha fiel lanterna me esperava, como sempre, como dantes.

'Vamos ao que interessa. Tenho um problema e quero que me ajudes. E porque é que tens direito a um travessão quando falas e eu não?'

- 'Cala-te.'

'Estás a ver? Isto assim não é justo.'

E então contou-me o que se passava. O marido não lhe dava atenção, desde que a trocou por uma espiga de milho no Outono de 83. Ela sabia do que eu era capaz e queria a minha ajuda.

- 'Não trato de pipocas. O açucar entranha-se-me na roupa e aquilo deixa marca. Não tens um lenç...'

Interrompeu-me a palavra com um beijo. Enrolou a língua no meio das consoantes e vogais, dando ao alfabeto uma nova ordem anárquica com sabor a hortelã. Largou-me o rosto e pregou-me um estalo que me acordou no mês de Fevereiro, nu, numa praia do Bangladesh.

- 'Colgate?'

E nunca mais fui o mesmo."

Passados alguns anos, já consigo usar mais letras do alfabeto. O meu estilo mudou um pouco, ganhei um metro mas perdi muito juízo, em compensação.

Comentários, sugestões, insultos e contacto para editar livros e ganhar milhões, é na zona aqui abaixo, sim?

Tenham medo. Muito medo.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Dia 55 - Alguém me dá um Dó?

Pois bem, hoje apeteceu-me pegar nisto e escrever qualquer coisa, porque não consigo falar (blame it on the flu).

Sabem aqueles dias em que achamos que vamos dizer alguma coisa de importante e por isso é importante falar, embora saibamos que de facto não vai sair grande coisa, e alguém depois vai dar o seu tempo por perdido por ter estado meia hora a olhar para um conjunto de disparates e censurar-se por acreditar que de facto algo de diferente poderia sair dos dedos deste maluco, que tivesse de facto interesse? Eu também não, nunca passei por uma situação dessas, mas se souberem de alguém (sem contar com o Badaró), estejam à vontade para dizer.

Vou escrever sobre algo de que gosto particularmente. Música.

A música que se ouve em Portugal intriga-me. Quer dizer, a música que se compra em Portugal assusta-me. Melhor, tenho medo do panorama musical português. Ou receio. Ou pavor. Talvez temor. Mas chega de brincar à semântica, se Shakespeare fosse português, hoje teria escrito "Há algo podre no reino da música em Portugal. Ou então sou eu que preciso de mudar de collants". E é provável que tivesse razão. Porquê?

É simples, basta ver os álbuns que estão no top da AFP - Associação Fonográfica Portuguesa. Eu podia acabar o texto aqui (há pelo menos 4 pessoas que concordam comigo nesta questão, e o meu gato Arnoldo chegou mesmo a sugerir que apagasse todo o Blog, mas eu não liguei), dada a inexistência de palavras para definir quão atónito fico sempre que vejo o programa Top+. Mesmo assim vou tentar dizer alguma coisa, e vamos lá a ver o que sai.

Engane-se quem pensa que as editoras, as grandes empresas discográficas e os grandes empresários que percebem muito de marketing mandam nisto. Não tenhamos dúvidas: quem manda no que se compra são... os putos. Porque duvido que mais alguém oiça, por exemplo, os melhores êxitos do Ursinho Gummy enquanto conduz, ou cantarole (belo verbo este, hã?) o refrão d' A Ritinha (tem um ratinho)... enquanto corta carne do novilho para assar. São eles... os "piquenos", que mandam. Ou isso ou então é porque esses cds são os mais baratos. É capaz de ser isso.

Mas esta nova vaga de música para crianças, que na verdade é composta na sua maioria por reedições de músicas antigas, cujos vídeos têm animações dignas de competir nos paralímpicos, trouxe consigo uma mudança no pensamento de alguns artistas da dita música a "sério". Já não basta cantar bem, ter um bom compositor e uma banda competente. Isso até nem é preciso hoje em dia. Muita coisa tem mudado e há uma questão que insiste em colocar-se no meu âmago, e até noutros sítios:

Videoclips em 3d - Serei o único a achar isso estranho?

O Avô Cantigas foi um pioneiro (e todos sabemos que é difícil ser pioneiro em alguma coisa quando se tem a idade do Carlos Vidal) ao decidir pendurar as jardineiras da vida real e deixar o seu alter-ego virtual tomar conta das coreografias. A partir daí, foi sempre a descer. Alguém achou aquilo uma boa ideia e decidiu trazer para Portugal personagens que já andavam lá fora a espalhar "magia" (a minha definição de "magia" também engloba o conceito "irritar como se não existisse o amanhã"), nomeadamente um tal de "golfinho Vicky", uma "bebé Lilly", o supra-citado "ursinho Gummy" e outros, cuja minha notória falta de cultura nesta área impede de referir com mais assertividade.

No entanto, posso tirar algumas conclusões destes exemplos: Para ter sucesso é importante ser um bicho e ter o nome a acabar em Y.

Se isto ficasse por aqui, seria apenas desastroso. Mas num glorioso dia, de má memória para quem tem olhos que funcionem, alguém pensou que podia usar esta cena do 3d para dar um "efeito giro" a vídeos cujas músicas que não têm piada nenhuma. E assim decidiram fazer representações de toda a banda em 3d, com movimentos dignos de um pensionista em reabilitação após operação à anca. O produto final acaba por chamar à atenção, porque apela à curiosidade. A mesma curiosidade que nos leva a abrandar quando há um acidente na estrada. Sabemos que aquilo não é bonito, mas não queremos desviar o olhar.

Há ainda aqueles artistas que, mesmo sem vídeos que recorram à animação 3d, ficam no Top semanas a fio, mas ninguém percebe porquê. Começando pelas cíclicas boys e girls band, que só mudam a embalagem, mas não variam o conteúdo, passando por aquelas artistas que fazem todo o sentido quando pomos a televisão em "mute" e acabando naqueles miúdos pubescentes que saem disparados de alguma série da Disney.


Queria terminar com uma carta que quis enviar, mas como não sei a morada, deixo aqui, pode ser que o destinatário a leia:

Remetente: JK
Destinatário: O senhor que inventou o "Joka, o Fantasminha"

Caro senhor, antes de mais queria dar-lhes os parabéns por existir há tantos anos e ainda manter a capacidade da fala e, ainda mais importante, embora por vezes desvalorizada, a capacidade de respirar. Queria ainda dar-lhe os parabéns por todos os aniversários que já completou até à data, que decerto serão bastantes, mas não quero com isto chamar-lhe velho, até porque uma pessoa da sua dimensão terá decerto um nome bem catita, dado pelos seus progenitores biológicos e/ou legais.

Mas vamos ao que interessa, não sei se já o fiz nesta carta, mas queria dar-lhe os parabéns. Por tudo, mas também pela sua ideia do "Joka, o Fantasminha". Realmente é necessário quebrar os trâmites convencionais da música de hoje em dia, e nada melhor que usar um fantasma, um ícone associado à morte, e transformar todo esse conceito, alicerçado ao longo de tantos anos na cultura popular através de histórias e dos filmes de terror, num êxito para a "pequenada". Acredito que não tenha sido fácil, principalmente depois do Avô Cantigas ter usado a sua influência para diminuir o poder terrífico de tão digna personagem, ao alegar, e cito: "fantasminha brincalhão/ não me metes medo não/ gostas muito de fazer bu bu bu bu".

Mas os desígnios do mundo da música portuguesa são insondáveis, e o senhor conseguiu, e já agora parabéns. E a ideia do nome... "Uau" é a única palavra que me ocorre.

Para o congratular convenientemente, decidi enviar há uns dias uma encomenda para a sua editora, para ser aberta apenas pelo senhor. Não será necessário passar o meu presente pelo detector de metais. Ah, e não tenha medo do "tic-tac" que se ouve, a sua curiosidade será satisfeita assim que abrir a embalagem.

Parabéns.





E descanse em paz.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Dia 54 - um mundo, um sonho. Ou dois.

Bem, não tenho muita certeza se será uma boa ideia escrever alguma coisa agora, mas como me apetece, cá vai:

Ultimamente não tenho dormido muito. E isto tem uma razão. Ou melhor, várias, sabendo que não tenho nada de útil para fazer. Mas falando do assunto em questão, existe algo que tem adiado a minha hora de ir para a cama. E falo, obviamente, dos jogos Olímpicos. Ora eu não sei se já o disse hoje, mas ainda não tenho a certeza se esta será a melhor altura para escrever sobre isto, dado que surgem na minha mente montes de piadas sem qualquer piada (estão a ver, tipo "Malucos do Riso") e que a vontade de as colocar aqui é bastante grande e a vontade de impedir que as escreva não é grande coisa. Do género "Não percebo porque é que às 3 da madrugada há tanta gente disposta a andar às cambalhotas e aos saltos dentro de um ginásio. Se fosse dentro de um quarto, nem diria nada, mas assim..." ou mesmo "Porque é que há tantos chineses a ganhar medalhas? E porque é que não vão trabalhar?"

Mas não, meus caros, o meu objectivo é apenas um: falar sobre esta cena dos jogos Olímpicos. Podia fazer um pequeno intróito (e lá se vai a licença para usar palavras caras) a explicar a origem destes jogos e podia escrever ainda pormenores dignos de alguém que estuda muito ou que sabe usar o google e a wikipédia, mas NÃO, desta vez vou apenas escrever sem mudar de janela, e se correr mal a culpa não foi minha, mas do browser.
Vamos a isso? Então vão indo que eu vou lá ter depois.

Ora bem, eu ouvi dizer há uns tempos que os jogos Olímpicos englobam cerca de 302 provas distintas e que para as quais há montes de países dispostos a ganhar uma ou mais medalhas. Existem três tipos de medalhas (feitas de ouro, prata e bronze), que são atríbuidas aos três melhores. E isto tudo deixa o mundo do avesso durante o período dos jogos, porque não há forma de escaparmos a notícias sobre os mesmos quando ligamos a televisão. Mas adiante...

Quero antes de mais dizer que gosto dos jogos Olímpicos. Acho piada ao conceito e concordo plenamente que se há um sítio em que um povo pode e deve impôr a sua superioridade sobre outro, nada melhor que um recinto desportivo, onde as regras do desportivismo e do respeito mútuo imperam, num cenário de igualdade de oportunidades. Ok, se calhar as coisas não são bem assim, mas vamos supor que sim, para que eu possa escrever alguma coisa.

A história, ou "quando é que se lembraram disto?":
Já toda a gente sabe que as Olimpíadas começaram na Grécia, com a finalidade de homenagear os deuses gregos. Isto tudo estava muito bem até um Imperador de nome Teodósio, se não me engano, decidir acabar com isso por ser uma manifestação pagã.

Uns anos mais tarde, lá para os finais do século XIX, o Barão Pierre de Coubertin decidiu relançar os jogos, e um amigo seu, de nome Didon, inventou o lema "Citius, altius, fortius" (Mais rápido, mais alto, mais forte). Em 1936 um ser medíocre e minúsculo de nome Adolph Hitler tentou acrescentar o princípio "Mais branco" ao lema, mas um atleta de nome Jesse Owens veio a provar que ele estava muito enganado.

Mas vamos ao que (não) interessa: existem algumas provas... vá lá, estranhas. Uma delas é uma prova equestre, a "dressage", na qual o cavaleiro anda com o cavalo de um lado para o outro, para a frente e para trás, da esquerda para a direita, ora a trote ora a fazer outra coisa que não sei definir. Não salta sobre nada, não corre contra mais ninguém, está sozinho num rectângulo de terreno a... andar. De um lado para o outro. Ah, e vai levantando as patas de forma ritmada. Eu só consigo perceber esta modalidade se for uma prova que os seres humanos conseguem ser mais parvos que os cavalos. Nota-se que o animal não quer estar ali, ele quer correr, saltar coisas, copular com éguas, aparar sebes, beber chá e comer biscoitos, e outras coisas que os cavalos gostam de fazer. Mas andar ali... não. Já imaginaram dois atletas olímpicos a conversarem, num momento de descanso:

Atleta 1: " - E então, rapaz, o que fizeste hoje?"
Atleta 2: "Nada de mais, corri os 200 metros obstáculos, qualifiquei-me para a final do lançamento do anão e acabei de sair das piscinas, onde fiquei em primeiro na prova '100 metros de pessoas que não sabem nadar'. E tu?"
Atleta 1: " Eu? Pois... estás a ver aquele rectângulo? Estive ali com o meu cavalo. A andar."
Atleta 2: " Ey... eu não consigo competir com isso." - (murmura para si mesmo) - "Vou só passear ali na carreira de tiro com um alvo na cabeça e já volto, ok? Até já..."

Há com certeza outros eventos que não fazem muito sentido, mas como eu não os conheço a todos deixo aqui a oportunidade ao caro leitor de denunciá-los. Basta deixar na secção de comentários, para que todos possamos rir a bom rir e passar um bom bocado, pode ser?

Mas por falar nisso (ou "por escrever nisso"), lembrei-me agora dos comentadores dos desportos olímpicos. De todos eles, alguns que até fazem outras coisas, porventura mais produtivas (mas quem sou eu para julgar?), existe uma senhora que costuma comentar as provas de ginástica. E aquilo é o epítome da categoria "pessoas chatas que percebem muito daquilo que comentam mas não sabem quando ficar caladas". Basta a/o ginasta fazer algo menos bem, ouvimos logo "E lá está, houve ali um erro, houve ali um erro, o ginasta falhou quando completava o triplo mortal encarpado à rectaguarda com dupla pirueta. Toda a gente viu, agora só se safa se se matar ou raptar um dos jurados. É que falhou mesmo. Não tem hipótese, a vida dela acabou."
Para o espectador normal, existem apenas duas categorias nas acrobacias dos ginastas: "Aquilo que não sou capaz de fazer, a não ser que me paguem mesmo muito ou que esteja muito bêbado para tentar" e "Aquilo que nem o menino Jesus ou o Eusébio são capazes de fazer". Para aquela criatura, a classificação é outra: "Aquilo que eu sei definir e deixar o espectador estarrecido com o meu brilhantismo" e "Aquilo que não existe". Minha cara, deixo-lhe o meu humilde conselho: CALE-SE!

Avanti...

Há uma pergunta que assoma à minha mente, qual bolha de ar ansiando por chegar à superfície da água: O que torna um desporto numa prova olímpica? Bem, provavelmente existem algumas pessoas cujo propósito é mesmo esse, e caso essas mesmas pessoas tenham acesso à Internet e tenham vindo parar aqui por engano, deixo algumas sugestões para novos desportos olímpicos, nos quais tenho quase a certeza que conseguiríamos algumas medalhas. Principalmente porque acho que os desportos da era moderna devem representar as actividades físicas do Homem contemporâneo.

Matraquilhos:
- Se já existe o ténis de mesa, o próximo passo lógico seria adoptar o futebol de mesa. Tenho a certeza que atletas não iriam faltar. Imaginem:
"Estamos agora na fase de 'perde-paga', os atletas já ocuparam as suas mesas, cumprimentaram os adversários, escutaram os hinos e receberam os 5€ em moedas de 50 cêntimos. Vamos ver qual das equipas chega ao final da competição com mais dinheiro."
Não são necessários árbitros para julgar lances duvidosos, faltas, agressões, foras-de-jogo e afins, porque há muitas garantias que o "meco" não vai sair dali. E se existirem as "roletas", basta tirar um "meco" e continuar, está feito.

100 metros Zapping
- Equipas de apenas um elemento, um sofá com rodas, uma televisão com rodas e um comando. Quem chegar à meta primeiro e conseguir mudar mais vezes de canal ganha.

SMS'ing
- Um telemóvel. Um tarifário de 1500 sms semanais à borla. Uma "pita". A primeira a esgotar as mensagens com informação inútil ganha (uma chapada e um "Vai 'masé' trabalhar" a altos berros - diz o meu Arnoldo.). O "sms'ês" é punido com penalizações e vários tiros de caçadeira.

Triatlo Tuga
Os três desportos seriam: 1,5 Km de Fila de espera para consulta médica, 40 Km's Carjacking, e 10 Km's de Fuga aos impostos.

Luta greco-romana... com facas... no escuro.
Este eu pagava para ver. Ou não ver.

=== parte crítica do post, saltar se não tiver paciência para ler ===

Outra coisa que me irrita solenemente são aqueles comentadores de sofá que, só porque uma prova correu menos bem, se saem logo com comentários do tipo: "Eu já sabia, já sabia! Está aqui um tipo a ficar acordado até às tantas e a esperar tanto dele, e faz-me aquela porcaria... rais' parta o homem! Tem algum jeito, podia estar tão bem a coçar o escroto e estive aqui a perder o meu tempo..." E esquecem-se que aquele "desgraçado" sacrificou grande parte da sua vida para poder estar ali, provavelmente a treinar em circunstâncias muito inferiores às dos adversários e com um salário microscópico.

Mas se porventura a bandeira portuguesa chega ao pódio, todos nos sentimos parcialmente responsáveis por aquele triunfo. "Foi o nosso apoio", "Somos os maiores". E depois vemos o nosso representante político a cumprimentá-los e a tirarem-se fotos com a medalha, foto essa que será emoldurada com os sorrisos amarelos dos múltiplos lambe-botas que só aparecem quando as coisas correm bem. E o atleta tem de aturar isto, porque no fundo espera que depois se lembrem dele e dos outros "anónimos", que são obrigados a ir para outro país treinar, só para terem condições de chegar às medalhas.

Com franqueza, vamos apoiá-los, quer tragam medalhas ou não. Só por serem portugueses já merecem medalhas de ouro. Para penhorá-las e pagar as dívidas.

E outra coisa... é vergonhoso ver que interesses políticos mancham um evento que tem como objectivo juntar as nações do mundo sob a égide da união e do respeito mútuo. Seres humanos morreram enquanto os seus representantes desportivos competiam respeitosamente e se cumprimentavam no final. As "tréguas olímpicas" são um mito que só não tem sido quebrado mais vezes porque... não tem calhado.

E já agora... para quê limitar as tréguas a um período?

E não acham que já chega de hipocrisia? A palavra Tibete... significa alguma coisa?

=== fim da parte crítica ===

Concluindo, da maneira que os recordes mundiais vão sendo quebrados, tudo me leva a acreditar que daqui a uns anos vão existir montes de super-homens e super-mulheres. Dos actuais 16 dias que dura a competição vamos passar a ter 3 dias de JO, porque eles tratam daquilo tudo num instante. E ainda limpam no final e arrumam tudo direitinho...




ou talvez não.




Bem... acho que vou mesmo dormir...



P.S.: Ah... e nem me façam falar da marcha...

Tenham medo. Muito medo.

sexta-feira, julho 18, 2008

Dia 53 - E chegou, chegou a... - Parte II

Aviso prévio ao leitor: Se não leu a parte anterior, vai arder no Inferno. Ou se calhar só fica um bocado crestado pela labareda, mas vai doer.

O "copo de água".

Os convidados seguem nas suas viaturas para o local do coiso, com aquela... digamos... paneleirice do paninho na antena, para ninguém se perder. Faz sentido, porque se eu me quisesse perder, não quereria ter aquela porcaria pendurada no carro. No entanto algumas pessoas deixam aquilo no carro, meses depois do casório. Porquê? Não sei, mas é parvo.

E sobre o nome "copo de água", acho que é altura de encararmos a realidade: Ninguém bebe água ali. Isto é só uma sugestão, mas que dizem de "Enfardanço à bruta"? O nome "copo de água" faz sentido no dia seguinte, no sentido de tomar um "copo de água" com algum anti-ácido, para a azia... não sei, é só uma sugestão.

Mas é no copo de água que surge aquela que será a personagem principal no resto do dia: O homem do teclado. Não se iludam, por esta altura já ninguém quer saber dos noivos. O senhor do teclado e do microfone com eco é que manda.

"Quero pedir uma grande salva de palmas para os noivos, faxabôre!" - Ele pede apenas por uma questão de cortesia, porque sabe que ninguém se atreve a questioná-lo. Há até rumores de alguns casamentos que se ficaram por ali porque alguém se esqueceu de bater as palmas ou porque tinha as mãos ocupadas.

"Agora vou dedicar esta música aos noivos" - O homem até pode esfolar um gato à frente do casal, este vai ter que sorrir e bater palmas no fim.

"Agora ia pedir um brinde aos noivos e queria que cada um fizesse um pequeno discurso no final. Ah, e depois o noivo vai regar-se com 'pitróil' e saltar através de um arco em chamas e a noiva vai recitar de cabeça a edição das Páginas Amarelas de 1963, da secção de 'Criadores de gado' à secção de 'Tubagens e Tubos', faxabôre." - Tem de ser, noivos. O homem é que manda. Ninguém come enquanto não disserem alguma coisa.

É certo que são os noivos que lhe pagam, mas o TT - Tirano do Teclado, é que decide.

Finalmente, chega a comida e temos a oportunidade de conviver com as pessoas que se sentaram à nossa volta. Aqui é que se esconde o segredo de um copo de água com sucesso: a colocação dos convidados. É provável que fiquemos junto de pessoas com as quais não convivamos muito, mas por alguma razão, no final do evento, vamos dar-nos muito bem. Eu não tenho uma explicação lógica para este fenómeno, mas deve estar relacionado com algum destes factores:

a) A fome.
b) O álcool
c) O facto de não ouvirmos mais ninguém por causa do raio do cd dos "Pan Pipes" que o TT pôs a tocar em loop.
d) Uma combinação sórdida das letras prévias, não necessariamente nesta ordem.

O grupo de pessoas com quem tenho ido a casamentos prende-se maioritariamente com o núcleo familiar - os meus pais e o meu irmão, mas há quem vá como "amigo dos noivos", sem qualquer ligação familiar. E é assim que é formado o grupo mais divertido e rebelde do casamento - Os barraqueiros. São estes os únicos que conseguem - e podem - fazer mais barulho que o senhor do teclado. Eles vão brindar 15 vezes de cada vez que um dos noivos se levantar para ir à casa de banho. Eles vão esperar que o noivo tenha um pedaço de couve nos dentes para se levantarem e dizerem: "Beija! Beija! Beija! Beija! Beija! Beija!". Enquanto batem com um talher no copo. - Nada romântico. Eles vão ser os primeiros a embriagar-se e os últimos a terem noção disso. São eles que, no fundo, fazem do casamento uma festa e uma dor de cabeça ao mesmo tempo.

Há ainda a mesa do pessoal mais velho, que assiste àquilo tudo com a passividade impávida de quem já passou por muitos casamentos e que sabe que tudo aquilo é passageiro. Não me refiro ao casamento, claro, isso até pode durar muito tempo, mas tudo, tudo é passageiro, estão a ver? A essência, a verdade de tudo... aquela cena que eu não faço a mínima ideia do que será, porque ainda sou novo.
Enfim, aquela sabedoria que só muitos anos e ainda mais casamentos pode trazer a alguém.

Chegam as entradas. Vão-se embora. Chega o primeiro prato. Vai embora o primeiro prato. Chega o segundo prato. Vai embora o segundo prato, chegam o bolo da noiva, as sobremesas e os aperitivos e mais não sei quê... eu até percebo que se queira fazer uma festa, com abundância e tal, mas come-se... mesmo muito. Há sempre alguém que trata as travessas por "tu" e chega ao fim com "um ratinho no estômago". Felizmente são raros, caso contrário os noivos passariam a lua de mel a lavar pratos.

O "after-food", que em português significa "Depois do enfardanço", é aquela fase em que o "Lord of the Keyboards" exerce o seu domínio. Chama as pessoas para dançar - Sim, depois de ingerirmos o nosso peso em bifinhos com cogumelos e bacalhau com broa temos de ir para o espaço em frente ao Senhor para dançar. E se não formos, eventualmente seremos alvo do olhar penetrante e punidor do tal sujeito. E aqui entra o declínio: êxitos do panorama musical popular português (PMPP - parece a sigla de um novo partido político. Aqui faz sentido se nos quiserem dar baile), êxitos no geral, êxitos no particular, êxitos da música latina, reggaeton, e tudo que passar na cabeça do senhor... não pode haver contestação. Raios, se ele começar a cantar fado, é para dançar e mai' nada! E não se coíbam de fazer aquelas coreografias das discotecas! E se começarem a mandar bitaites lixo-vos com o comboínho!

O comboínho é algo de extremamente estranho. Pessoas em fila, a imitar um comboio e a andar à volta das mesas, enquanto batem palmas e cantam alguma coisa... geralmente o "Apita o comboio". É a música oficial do comboínho. Os italianos podem orgulhar-se da Mona Lisa. Os franceses podem orgulhar-se da Torre Eiffel. Nós temos o comboínho, venham eles!

Ok, eu até posso estar a exagerar... mas não estou.

E ainda há a acrescentar o... karaoke.

(Pausa para expressão de dor)

Pior do que karaoke só... (podem pôr nos comentários o fim desta frase, seria giro) ... as pessoas que gostam de karaoke. E elas existem. E se lhes acrescentarmos a desinibição etílicamente provocada, ficam ainda mais irritantes, porque não têm medo de desafinar. Até insistem nisso. E depois arrastam os amigos e tomam o monopólio do micro... a única coisa que os pode tirar dali é uma cadeira na testa ou uma catástrofe natural.

Nesta altura o desespero já toma conta de muita gente. Pelo menos daqueles que não beberam o suficiente (o que geralmente é o meu caso, como vou com a família, não posso abusar... ele há coisas chatas), e a definição de suficiente, nestas ocasiões, calcula-se em cerca de 10 vezes a noção do legalmente permitido, ou seja, a um Mon Chéri do coma alcoólico. E este desespero é o semelhante ao de algumas raparigas (e sublinho o "algumas") aquando do lançamento do bouquet da noiva. Às vezes há feridos. Não sei quem foi o génio que se lembrou de inventar a ideia de que a rapariga solteira que apanhar o bouquet da noiva será a próxima a casar. Isto é o "major turn-off" do namorado da dita. Ele não vai passar o resto da tarde sossegado. É nesta altura que ecoam pela sala os parabéns das amigas da rapariga e os pêsames dos amigos dele.

Eu gostava de fazer uma sugestão, quem sabe seja criado este costume:
Que tal pegarmos no conceito do lançamento do bouquet no casamento, retirarmos o bouquet, retirarmos a noiva, retirarmos o casamento, retirarmos as raparigas solteiras de quarentas-e-muitos-mas-que-insistem-em-dizer-a-toda-a
-gente-que-têm-apenas-vinte-e-poucos-embora-o-bilhete-de
-identidade-não-minta-e-as-faça-sentir-que-se-desejarem
-mesmo-serão-jovens-para-sempre-mas-queridas-a-cena-dos
-desejos-só-funcionou-com-o-Aladino-mas-como-o-tipo
-usava-umas-sandálias-esquisas-a-cena-lá-se-compôs E acrescentarmos uma botija de oxigénio, um lar de 3ª idade, muitos pensionistas e a ideia de que o primeiro a apanhar a botija será o próximo a morrer? Eu sei, é arrojado. Portugal provavelmente não tem dimensão suficiente para uma inovação destas, mas pode ser que alguém pegue nisto.

E para acabar, quero desejar os parabéns aos noivos do casamento ao qual fui. Eles sabem quem são, e sabem que gosto muito deles. É pouco provável que leiam isto ou que, caso leiam, voltem a falar comigo depois deste texto (ou não), mas pronto, vocês são os maiores :p

E em relação aos jovens casais... bem... aos casais que pretendam casar, boa sorte com isso, não se esqueçam de me convidarem para a despedida de solteiro mas por favor esqueçam-se de me convidar para a tortura do "after-food". A não ser que em vez do TT (e não me refiro ao Audi) esteja uma Salma Hayek ou um par de Jessica(s) Alba(s). Aí podem contar comigo para a Macarena.




P.S: Lembrei-me deste detalhe... antes da cerimónia começar, o senhor do teclado pôs como música de fundo a "Yesterday" dos Beatles... acho que não é preciso dizer mais nada.




P.S.2: Eu confesso, sou absolutamente contra o novo (que não é assim tão novo, mas adiante) acordo ortográfico, mas é a única forma de mandar esta piada, por isso cá vai:
- O casamento é uma união de fato... e gravata.



(eu sei... fraquinha...)




Tenham medo. Muito medo.

quinta-feira, julho 17, 2008

Dia 52 - E chegou, chegou a... - Parte I

Aviso prévio aos leitores: este texto vai ser grande.

Hoje vou tentar escrever sobre alguma coisa, para variar. Há coisa de uns dias atrás estive presente numa cerimónia à qual algumas pessoas chamam de "casamento". E não é novidade nenhuma que se há um sítio propício para que coisas estranhas existam, o casamento é um grande candidato. "E por onde começar?" - pergunto eu aos meus botões.

Como eles não respondem, vou começar pela primeira coisa que me vier à cabeça.

Pensando bem é capaz de ser melhor começar pela segunda coisa que me vier à cabeça, dado que a ideia de uma roda cúbica interessa a muito pouca gente (eu incluído).

O casamento é uma festa. Que geralmente começa com toda a gente, menos os noivos, porque é suposto estar lá toda a gente à espera dos ditos. Mas até agora tudo bem, nós já sabíamos com que contar quando recebemos o convite. E lá está algo que é bastante interessante.

Comecemos então pelo convite. Geralmente é-nos entregue um envelope todo jeitoso no qual está um papel de elevado grau de "catitice" anunciando a data e local do casamento, assim como os principais intervenientes, ou seja, a sub-gerente do departamento de afiação de lápis e o senhor que escolheu as cortinas. Alguns destes convites optam por uma via mais alternativa e radical e, imitando aqueles tipos que teimam em contar o fim do filme quando este ainda vai a meio, escarrapacham ali o nome dos noivos, para grande surpresa de quem recebe o supra-referido documento. O convite em si não tem nada de especial, e brincar com este assunto pode parecer parvo (e é mesmo) mas há algo que persiste na minha mente:

- Se as osgas um dia ganhassem asas e decidissem dominar os céus no geral e o comércio de pêssegos no particular, será que o programa espacial europeu teria de ser modificado ou ficaria apenas permitido o seu acesso aos cidadãos com televisão por cabo?

Após o convite é suposto dizermos se vamos ou não. Para efeitos pedagógicos (ou talvez não, porque aqui não se aprende nada), vamos supor que dizemos que sim.

E lá vamos nós. E o dia do casamento é aquele dia em que sabemos que vamos ter de sair de casa com um aspecto algo cuidado. Eu estive a investigar sobre este assunto e um especialista na matéria disse-me, e cito: "Por favor não me deixes cair da varanda abaixo, o dinheiro está na mesinha do telefone. E já agora, o aspecto algo cuidado necessário para irmos a um casamento deve variar de acordo com o gosto da pessoa, mas algo que não leve a que sejamos baleados ou confundidos com um canteiro geralmente basta para sermos aceites. Aaaaaaaaaaaaaaah.... "

Se formos um gajo (como é o meu caso), lá procuramos um fato que esteja limpo e/ou que não cheire assim tão mal (o que geralmente é fácil, se não tivermos assim tantos fatos, como é o meu caso), engraxamos os sapatos, fazemos a barba, penteamos o cabelo, damos de comer ao cão, à iguana, ao gato e ao perú, tomamos o pequeno-almoço, lavamos os dentes e depois de estarmos vestidos e preparados para sair vamos ter com as senhoras (mãe, tia, namorada, avó, amigo com gostos "alternativos", etc...) que nos acompanharão à cerimónia, que acordaram 2 horas antes de qualquer ser vivo no planeta e se dirigiram ao cabeleireiro para tratar do penteado, das unhas, das sobrancelhas, das pestanas, das orelhas e de outra coisa qualquer que entretanto se lembrem, isto depois de terem passado mais ou menos uma semana a escolher a sua indumentária para a ocasião, nomeadamente, brincos, sapatos, vestido, lenço, o perfume, etc, etc e etc... e ainda etc.

E quando chegamos ao local e começamos a cumprimentar as pessoas que já lá estão, surge o primeiro grande problema: É raro conhecermos toda a gente. E convivemos regularmente com uma pequena parte das pessoas que conhecemos. O que nos obriga a recorrer à dita conversa de ocasião, geralmente subordinada à temática das pescas e do clima, assim como ao desempenho desportivo do nosso clube em determinado embate ou mesmo no geral. E se tudo isto falhar, podemos sempre optar pela crítica da situação política actual, nomeadamente com frases do género: "Isto é sempre a mesma coisa, pá. Quando estão em campanha prometem mundos e fundos e depois não fazem nada. Só querem o poleiro, os bandidos, pá!" - O substantivo "pá" dá bastante jeito, porque não queremos admitir que não nos lembramos do nome da pessoa com quem estamos a falar... mas continuando.

Após algum tempo, que varia na ordem dos minutos, chega o noivo. Cumprimentamos o rapaz com o mesmo olhar que damos ao presidiário no dia da sua última refeição e este, após os abraços e beijinhos dirige-se para junto do padre ou do senhor do Registo Civil. O noivo é geralmente posto em segundo plano, porque até ele espera pela noiva. Dizem que isso tem raízes culturais. Deve ser por isso que todos nós criamos raízes enquanto esperamos pela chegada da noiva, que varia na ordem das horas. Algumas pessoas não conseguem esconder o seu alívio quando a noiva chega e até batem palmas. E para disfarçar dizem: "Está tão linda."

À frente da noiva vai o único miúdo(ou míuda) que não faz a mínima ideia de onde está: o menino das alianças. Estou para ver o que acontece se um dia o puto começar a fugir nessa altura. Deve ser por isso que só escolhem crianças de pouca idade para fazer isso. Têm pernas pequenas e não chegam muito longe.

- Enquanto a noiva caminha para o altar, é posta a tocar a "Marcha Nupcial", originalmente composta por Wagner para a peça (ou lá que seja o nome a que dão a estas coisas) "Lohengrin". Há quem diga que existem algumas semelhanças com a marcha fúnebre de Chopin, o que não deixa de ser giro, porque há alguma coisa que acaba naquele dia, nem que sejam os lenços de papel das apelidadas "choronas". -

A cerimónia então começa, geralmente nesta altura não consigo ouvir o que o senhor está a dizer aos noivos, porque estou atrás da primeira fila, mas deve ser algo importante. E após aquela conversa, o orador lá decide aumentar o volume da sua voz para dizer

- "(inserir nome do noivo), aceitas a (inserir nome da noiva) como tua legítima esposa?
Noivo - Pode ser.

- "(inserir nome da noiva), aceitas o (inserir nome do pobre do noivo) como teu legítimo esposo?
Noiva - ...

E aqui alguns sustêm a respiração, porque a noiva pode dizer que não. Pode? Isso até acontece nas novelas e em alguns filmes, mas na vida real... hmmm... não me parece. A festa não é assim muito barata e convidar aquela gente toda para dizer "Não" é um desperdício de acepipes.

E então eles casam. Todos batem palmas e atiram o arroz aos noivos, a representar os desejos de prosperidade e fertilidade ao novo casal. Eu acho que, tendo em conta o preço dos cereais, seria recomendado atirar o arroz... dentro do pacote. Os noivos podiam não gostar, mas era giro. E económico.

Depois, o "copo de água".

Mas isto fica para o próximo capítulo, publicado já de seguida.

quinta-feira, maio 29, 2008

Dia 51 - Aaaaaaaaaaaayyyy....

Pois é, hoje vou escrever sobre vizinhos.

Gostaria de começar por dizer que odeio os meus vizinhos, mas infelizmente não posso fazê-lo porque já comecei o texto a dizer que ia escrever sobre vizinhos, por isso queria pedir aos caros leitores para ignorarem a primeira frase deste belo texto, apenas por ser a primeira. Porque o texto será mesmo subordinado ao tema dos vizinhos (embora não me agrade a ideia de um texto meu ser subordinado a alguma coisa, ainda por cima os meus vizinhos, mas continuando...).

Como disse há pouco, eu odeio os meus vizinhos. Eu não sou de odiar ninguém, a sério, mas neste caso a redundância é plena de justificação, porque eu não gosto mesmo deles. Acho até que este recurso estilístico foi inventado por alguém que queria representar de forma veemente o seu desprezo para com os seus vizinhos. Provavelmente até morava à minha beira.

Mas vamos ao que interessa. O ser humano, na sua evolução, teve de ultrapassar certas barreiras comunicacionais para garantir a sua sobrevivência, ou seja, teve de arranjar uma linguagem, por muito primitiva que fosse, para poder comunicar certos pensamentos e emoções. Mas isto não foi muito complicado, porque temos mesmo tendência para isso. É natural, eventualmente conseguiríamos ultrapassar esse problema. E como já estou cansado de falar sobre a evolução do Homem, vou atalhar: Descobrimos o fogo, inventamos a roda, fizemos as primeiras casas, os povos nómadas saíram de África, espalharam-se pelos continentes, formaram países, andaram todos à porrada entre eles. No meio disto tudo apareceu o nosso país e, convenhamos, apesar de tudo que tem andado mal, até gostamos dele. Também não temos outro ao qual chamar "nosso". A não ser as pessoas que não são do nosso país. Mas essas também só têm um ao qual chamar o seu. A não ser que sejam de dupla nacionalidade. Pff... acho que já perceberam onde quero chegar, certo? Por isso vamos continuar...

E eu estou em condições de garantir que entre o Homo habilis e o Homem actual, alguém esteve sentado, com o dedo no seu nariz (primitivo), alheio (da forma mais primitiva possível) a qualquer noção de evolução. E como a Natureza é pródiga em milagres, este grupo restrito de seres lá conseguiu sobreviver. E vieram morar para a minha beira.
Eu não sei se vocês terão mesmo a noção de que tipo de criaturas vos falo. Eu também não os consigo categorizar devidamente, sei apenas que são bactérias barulhentas, biltres e badalhocas que teimam em continuar a respirar. Não me interpretem mal, eu acho que todos temos direito à vida... menos eles. Aquilo é gente que não interessa a ninguém. Se o Bush morasse no meu prédio, de certeza que eles já seriam acusados de terem armas de destruição maciça. E seria provavelmente a única vez que ele teria razão.

Vamos a um exemplo: quando nós (gente educada, informada, respeitadora das normas sociais e maluca em part-time) pretendemos falar com alguém que não está perto de nós no momento, pegamos num telemóvel e ligamos à referida pessoa. Simples e eficaz. E o que é que os meus vizinhos fazem? Abrem a porta e... gritam. Até a pessoa responder. E se essa pessoa estiver um pouco mais longe... gritam mais alto. Seja a que horas for.

Conviver é, para mim, estar com as pessoas de quem gosto, a fazer algo que seja agradável a todos, sem prejudicar mais ninguém. No caso dos meus vizinhos isto resume-se a... gritar em conjunto. Uns com os outros. Enquanto cheiram mal.

Claro que nem todos os meus vizinhos são assim: há mais gente a morar no meu prédio que também não gosta deles.

E se calhar vou ser polémico, mas que se lixe, o blog é meu, eu posso: Este grupo de pessoas é de etnia cigana. E não é por isso que eu não gosto deles, é apenas pelo facto de não respeitarem mais ninguém senão eles próprios. Eu não tenho nada contra ninguém, sejam caucasianos, latinos, africanos, asiáticos, etc, etc e tal... mas há uma noção romântica do povo cigano, mostrada em alguns filmes, que infelizmente está longe da verdade.

Lá eles são nómadas (e alguns são parecidos com o Johnny Depp - diz a minha iguana.)


E estes não saem daqui.


P.S: Oh senhores alienígenas, cuja chegada eu profetizo há tanto tempo... depois deste texto querem mais sugestões de pessoas a quem podem raptar para pôr sondas e outros objectos estranhos em sítios inomináveis?





Vá, pensem lá nisso...





Tenham medo. Tenham muito medo.

segunda-feira, abril 28, 2008

Dia 50 - Bonito serviço...

Há coisa de uns dias atrás (não vou dizer quantos porque não me apetece e também porque não sei de facto de quantos dias se trata) Portugal acolheu um torneio de ténis. O ténis é um desporto que foi inventado nos finais do século XIX pelos ingleses, quando procuravam uma forma criativa de fazer gofres enquanto matavam mosquitos mesmo grandes. Bem, se calhar não foi bem assim (perguntem à wikipédia), mas o mal está feito e já não podemos fingir que o ténis não existe. Não me interpretem mal, eu até gosto de ténis, mas este desporto está pejado de coisas que não fazem muito sentido.

Comecemos pelo sistema de pontos (eu até nem queria pegar já nisto, mas posso esquecer-me entretanto, por isso falo já... é a idade ). Nos outros desportos, o filme é este:

==Começa o jogo==

Minuto 17:
Jogador/ Equipa 1 marca um ponto --> 1 - 0

Minuto 37:
Equipa 2 empata --> 1 - 1

intervalo:
Equipa 1 paga ao árbitro --> 6 - 0

== fim do jogo ==

No ténis é diferente, eles têm um pouco a mania que são mais importantes que os restantes desportos. Quando alguém marca um ponto - PIMBAS! 15 - 0. Assim de rajada. Não fazem a coisa por menos. E se marcam outro, o adversário já tem de recuperar de 30 - 0. Isto é coisa para desmotivar o desgraçado que estiver a 0. É estranho, mas não acaba aqui. E quando alguém já está habituado a isto, "pronto, é de 15 em 15, eu consigo viver com isto. O mundo não acaba aqui.", os tipos que inventaram este brilhante sistema de pontos decidiram passar da sequência 0 - 15 - 30... para 40. Não é 45, é 40. Parece que de repente decidiram não exagerar. "45 já é coisa para humilhar" - pensaram eles.

Porquê?

E seria aqui que eu lançaria alguma explicação plausível (leia-se "parva") para este fenómeno, mas a verdade é que não estou a ver mesmo qualquer razão para isto. Ah, espera aí, se calhar até faz sentido se... não, não faz mesmo sentido nenhum. É que nem pondero a hipótese d' Eles terem alguma responsabilidade neste assunto. É capaz de ser pura estupidez. E não me façam falar da cena dos sets.

Mas como disse há pouco, eu até gosto de ténis. Cheguei, inclusivé, a praticar esse desporto quando frequentava o secundário. Jogava mal, é certo, mas a minha inaptidão para o desporto é conhecida por todos. Até o meu gato Arnoldo me finta com o novelo de lã dele. Estou a brincar. Ele não tem novelo de lã. Tem um lança-chamas pequenino que usa para aquecer o leite.
Uma das razões pelas quais gosto de ténis é... deixa-me pensar.. eu sei que tenho... pelo menos uma... ah, já sei. É por causa das tenistas. Anna Kournikova, Ana Ivanovic, Maria Kirilenko, Maria Sharapova, Mariah Carey, são tudo nomes de mulheres. Três destas são actuais tenistas e até têm um lugar simpático no ranking da WTA. (Ao que parece a Kournikova já não compete, mas não deixa de merecer figurar nesta lista...) E outro facto curioso, comum a todas é - São giras. A Europa de Leste é pródiga em tipas giras. Mas sobre isso falarei um dia destes.

E isto faz-me pensar: O ténis é um desporto no qual se usa roupa leve, própria para um desporto que decorre num clima ameno - um pólozinho e uns calções para os tipos e um vestido curto para as tipas, pouco mais. E as senhoras acima referidas são oriundas de países onde está bastante frio, a Rússia e a Sérvia. Há aqui algo que não faz muito sentido.

É como ter a selecção brasileira campeã de hóquei no gelo. Nada contra os brasileiros, trouxeram ao mundo coisas extremamente giras, tais como a picanha, o samba, a capoeira, a Lavínia Vlasak, entre outros... mas não deixa de soar estranho.

"Ah, mas em outros desportos, tais como o futebol, o "rugby" e o "cricket" também se joga com roupa leve, muitas vezes em climas bastante adversos." - pensa o caro leitor.
Mas esses desportos são para duros (com excepção do cricket, que é apenas estranho), aquilo é gente que aguenta, por isso tudo bem. O ténis, por outro lado, é tido como um desporto de cavalheiros (apesar de ter nome de calçado), o que, por outras palavras, quer dizer que é um desporto com algumas, vá lá, mariquices associadas. Sempre que chove muito, eles interrompem logo a partida e cobrem o court com uma película... Se está muito vento, o jogador pára para a brisa amainar. Se há muito barulho, o árbitro pede silêncio aos espectadores. E se os espectadores se mexem quando o jogador vai a servir, é aceitável que o atleta reclame e reprove a atitude do coitado que, com o objectivo de coçar a micose, se teve de deslocar ligeiramente. E já que falo nos espectadores, não compreendo como é que há tanta gente a ver os jogos quando estes são disputados em dias úteis, em pleno horário de expediente. Eu tenho desculpa, porque não faço nenhum, mas que desculpa têm os "Bernardos", os "Salvadores", os "DE Vasconcelos" e os outros indivíduos cujos nomes que nos obrigam a fazer uma cara esquisita para os dizer da forma correcta, assim como todos os sujeitos cuja risca ao lado cobre metade da cara? É provável que os professores de Vela e os instrutores de Pólo lhes concedam uma pequena pausa para assistir ao ténis. Há gente sensata e piedosa nessas áreas.

E qual é a ideia do árbitro mandar nos espectadores? Eles não pagaram o bilhete para assistir ao jogo? Na maior parte das vezes até não, mas suponhamos que não há cunhas e que aquilo se desenrola dentro dos trâmites normais, os espectadores têm algum direito a falar. No ténis eles só falam durante aqueles segundos que antecedem o serviço do jogador.

Já pensaram se fazíamos o mesmo no futebol? As claques teriam de reduzir os cânticos para uma frase pequenina, ou mesmo ficarem-se pelas siglas: "SLB... SLB... SLB, SLB, SLB, FDP, SLB, FDP, SLB..." - é capaz de não pegar. Seria muito estranho vermos um jogador a repetir um penalty só porque 1 dos 12.000 tipos atrás se levantou para ir buscar o rim do companheiro do lado após este ser atingido por um petardo ou algo parecido. Mas o SCP não se importaria.

Só não percebo como nenhum comentador dos jogos de ténis ainda não tenha dito "Bonito serviço" - ao estilo de porteira quando vê o inquilino do 3ºEsquerdo a levar mais uma ucraniana para o seu apartamento após esta vomitar ao lado da entrada - na sequência de um Ás ou qualquer coisa parecida. Se calhar até já disseram, mas eu não vi. É provável.

Voltando ao assunto do ténis. Este desporto tem ainda um vertente que traz alguma variedade ao tipo de jogo: O piso. Dizem os entendidos que diferentes pisos dão diferentes velocidades ao jogo, devido à maior transferência/conservação de energia cinética na interacção do piso com a bola (estou só a mandar bitaites, eu não percebo nada de física, não liguem). Eu acho que isso é interessante, e queria deixar aqui a minha sugestão. Caro João Lagos, se me estiver a ler, sugiro que vá buscar papel e caneta:








Eu espero, não se preocupe.








Ténis na rua, em paralelos molhados.









Seria divertido. Pelo menos para mim.


Tenham medo. Muito medo.

quinta-feira, abril 17, 2008

Dia 49 - Search. Enter.

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terça-feira, janeiro 15, 2008

Dia 48 - fumar acalma. Eventualmente.

Eu não fumo. Mas há quem fume. E isso é uma prova da existência da liberdade. Pelo menos alguma liberdade. Dizem muitas coisas sobre o conceito de liberdade e eu não vou ser mais uma pessoa a falar disso.

É inegável que o acto de fumar incorre em algumas consequências negativas para a saúde do sujeito que fuma ou que, de forma indirecta, inala o fumo consequente da combustão do tabaco e dos outros constituintes do cigarro. No entanto, as pessoas continuam a fumar. E pagam os maços de tabaco.

No princípio deste ano entrou em vigor uma lei que, em traços gerais, proíbe que se fume em locais fechados. Ou seja, tudo que esteja ladeado por paredes e encimado por um tecto tornou-se um local no qual é proibido fumar.

- Claro que entram aqui alguns pormenores sobre a área do espaço fechado e sobre a existência de equipamentos extractores do ar e não sei quê e outras cenas que ajudam a limpar o ar do espaço, a salvar as baleias e dar bom hálito aos professores de Físico-Química que nasceram no mês de Julho... mais coisa menos coisa, mas isso não interessa para o caso -

Mas voltemos ao assunto:

- A verdade é que, a partir de Janeiro, muita gente foi obrigada a ir matar o vício para as portas dos cafés, dos restaurantes, das empresas, das sedes de partido, dos bunkers secretos dos terroristas, dos hospitais. E a contestação não demorou a fazer-se ouvir: "Ai, porque apanhamos frio", "Ai porque nos estão a segregar", "Ai, porque me dói um pé", "Ai, porque desde que tive de remover cirurgicamente um pulmão, tenho muita tosse e se for fumar lá para fora, fico pior"... uma série de Ais que na mente de alguém faz sentido...

E aqui eu lanço uma pergunta: (não é mesmo aqui, é na próxima linha)

- Porque é que eu nunca vi reportagens nas quais foram entrevistadas pessoas que não fumam, sobre as vezes em que essas pessoas apanharam com fumo na cara quando almoçavam, quando conversavam num café qualquer ou mesmo das vezes em que chegaram a casa com a roupa a cheirar a tabaco?

A resposta de alguém que percebe disto será mais ou menos esta:
- Porque não é notícia. Não é novidade e logo não é noticiável.

Então, se seguirmos a lógica... não é novidade existirem faltas de respeito. O que está correcto, porque a história do mundo contemporâneo é pródiga em episódios de faltas de respeito. O nosso país começou com um filho a bater na mãe, e hoje ninguém se queixa (embora a senhora na altura se tenha queixado).

Mas calma, é claro que existem fumadores que até são boas pessoas (Da mesma forma que existem não-fumadores que até são bastante irritantes. E frequentam bares de karaoke, o que os torna ainda mais irritantes.). Eu conheço alguns. Os fumadores que até têm algumas noções de respeito demonstram a sua concordância com esta nova lei, mas não negam que é incomodativo terem de se deslocar para um outro sítio quando querem fumar. E têm toda a razão. Fumar à chuva, além de ser cansativo, é... molhado.

Não sei se já o disse hoje (estou cansado demais para ir ver o que escrevi atrás), mas a verdade é que o fumador é um indivíduo dependente de uma substância. E por se tratar de uma droga legal, isso não deve ser encarado como algo menos sério. Muitos fumadores precisam de ajuda para deixar de fumar. E a "ajuda" passa por coisas como pastilhas com nicotina, pensos com nicotina, consultas médicas, terapias e outras coisas que tal, nas quais é possibilitada ao dependente uma saída para o vício. Muita gente diz "basta haver força de vontade"... e há muita gente que diz "A minha mãe é um arbusto e eu falo com fadas"(não é muita gente, um par de pessoas, vá lá). Eu acho que depende muito de cada pessoa. No meu caso, não preciso de nada para deixar de fumar.

Confesso que gostei desta nova lei. Não é costume gostar de alguma coisa que saia da Assembleia da República (a não ser a Joana Amaral Dias em dias de sol), por isso isto pode ser um indício que as coisas estão a melhorar... não, deve ser engano.

Outra coisa que gostei nesta Lei é que a partir de agora, é provável que deixemos de ter uma época de fogos. Basta afixar nos pinhais um autocolante de "zona de não-fumadores. Ora, se não há fumo... não há fogo. Simples (e parvo, também).

Eu tenho algumas soluções possíveis para este embaraço:

(Ok, gente com dinheiro para investir em ideias, peguem nos blocos e apontem)

Porque não:

1. Fazer uma colónia de fumadores? Uma zona franca de fumo? O Hitler fez algo semelhante... mas com gás.

2. Trocar as folhas de tabaco por folhas de cicuta? Tem o mesmo efeito e é mais rápido.





Não sei... podia funcionar.





Tenham medo. Muito medo.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Dia 47 - o melhor de sempre que nunca aconteceu...

Pelos vistos o ano começou sobre rodas para Portugal. Não estou a falar da subida do petróleo para os 100 dólares por barril, mas algo diferente. Pela primeira vez em 30 anos, o rally Lisboa-Dakar (que antes começava em Paris) foi cancelado. O que é óptimo para um país que gosta tanto de turistas. E de comer pó.

O prejuízo português é, segundo pessoas que fazem estimativas de prejuízos, estimado em cerca de 3 milhões de euros. Para o cidadão português comum é o equivalente a uma vida inteira a trabalhar 26 horas por dia. Para o Joe Berardo é o equivalente a 3 segundos na televisão a dizer a palavra "Atum".

Mas voltando à questão do Rally, segundo pessoas, aquilo não vai arrancar porque existem ameaças de ataques terroristas. E aí é que entra a minha preocupação. Não necessariamente com o terrorismo em si, mas com o resto.
Vamos analisar bem: Aquilo é uma prova de resistência na qual entram carros, motos e camiões. E essa panóplia de viaturas, de diferentes tamanhos, feitios e cores, atravessam países subdesenvolvidos, alguns dos quais em situações de pobreza extrema, com o objectivo de chegar ao fim no menor tempo possível. E inteiras, de preferência. A acompanhar os pilotos temos ainda toda a equipa técnica, composta por ainda mais veículos, pessoal e essas coisas todas, que pessoas entendidas decerto saberão enumerar com muito mais pinta do que eu. E lá vão eles, todos contentes, para o deserto, cortar dunas, tentar não atropelar animais ou quem sabe, conhecer de perto alguma árvore ou um calhau mais afoito que se atravesse à frente.

Como disse no início do texto, o barril de petróleo está cada vez mais caro.
( - pausa para o scroll up - )
Isto é indiscútivel, excepto em algumas zonas do mundo em que as pessoas dizem "petróil". E o petróleo é uma fonte de energia não-renovável, ou seja, é finito e demora muito tempo a voltar a existir.

Ora é impressão minha ou há qualquer coisa que não está muito bem aqui?
Temos de um lado o mundo a queixar-se do aumento do custo do barril de crude. E do outro temos os auto-denominados "pilotos" que vão para o deserto a abrir, a ver quem chega primeiro à meta.

E quem é que ganha com isto?

(Não se preocupem, não vou pelo caminho da crítica fácil... nem sequer vou achincalhar ao de leve as grandes empresas que ganham montes de guito com estes eventos e que não querem saber da pobreza dos países por onde passam e nem sequer perdem um segundo a pensar nas pessoas que cada vez pagam mais por tudo com cada vez menos dinheiro.)

- Pelos vistos, quem ganhar a competição ganha um troféu. E os nativos dos países africanos por onde os carros passam... bem, esses ganham, em adição a um possível negócio fortuito com um piloto qualquer pela venda de uma bateria ou até de um pneu, uma nova possibilidade de morte imediata, nomeadamente um atropelamento, em adição às mortes por fome, doença e outras, tão populares naquelas áreas.

É muito provável que a Al-Qaeda não tenha nada a ver com isto. Aquilo é gente que também gosta de desperdiçar. Dois Boeing 747 para deitar abaixo uns prédios. Toneladas de explosivos para rebentar autocarros, prédios e, à falta de mais alguma coisa, pessoas. Para estes senhores do turbante, tem de ser tudo à grande: Se há um tipo cujo atentado não passe na Al-Jazeera, tem a carreira arruinada. "Vai ser terrorista para outro sítio que aqui não te queremos. Tenta a política ou qualquer coisa parecida." - dizem logo.

Eu espero que, assim que forem apuradas as responsabilidades, seja publicado um desmentido a repôr a verdade. São terroristas? Sim senhor. Mas também têm sentimentos.

É muito provável que o caro leitor pense que, apesar do meu tremendo bom aspecto e charme, eu não gosto do desporto motorizado. Isso não poderia estar mais longe da verdade. Quer dizer, se calhar até podia, e é provável que esteja bastante perto, mas neste caso vou seguir uma máxima de Albert Einstein: "Não quero saber. Passa-me o pão."

Mesmo assim, eu tive uma ideia que pode salvar o Rally Lisboa-Dakar. Não a vendi a ninguém, é para quem a aproveitar primeiro. Cá vai:

Porque não fazer o Rally todo... em Portugal?

Querem dunas e areia?
- Figueira da Foz.

Querem terrenos atribulados e cheios de obstáculos?
- A auto-estrada em hora de ponta.

Querem desertos?
- Alentejo.
(Refiro-me a desertos populacionais, entenda-se. Eu adoro o Alentejo.)

O risco de um potencial rapto, seduz-vos?
- Cova da Moura.

Querem conviver com várias culturas ao mesmo tempo?
- Algarve.

Têm saudades dos camelos?
- Assembleia da República.


Lisboa-Dakar? Naaa... Rally Caçarelhos - Mexilhoeira Grande, isso sim é negócio.

Alguém vai ganhar muito dinheiro com isto. E não vou ser eu.



Tenham medo. Muito medo.