sexta-feira, maio 04, 2007

Dia 40 - "Até já"

Boas! Já faz algum tempo desde a última vez que escrevi, mas não me apetece gastar linhas com possíveis justificações, por isso vou passar já a dizer o que realmente interessa. Há algum tempo que estava com ideias de escrever sobre o fenómeno dos taxistas, mas isso terá de ser adiado para um outro dia, de modo a ser épico quando o escrever. Ou então algo assim para o razoavelmente mediano, dentro da classe dos textos "vá lá, fraquinhos" (não me enganei nas aspas, existe realmente uma classe com este nome. Onde? Não sei. Mas existe.). Hoje vou escrever sobre:

- As despedidas.

Calma, não abram já o champanhe, porque este não é o último post deste blog.

É verdade, a temática das despedidas tem suscitado alguma celeuma no meu intímo e, como já gastei a expressão inteligente para hoje, vou abster-me de abstraccionismos que, embora possam ficar muito bem num jantar de negócios, num encontro de filósofos, numa qualquer reunião do clube de fãs de Paulo Coelho, num cantar das claques de futebol (aproveito desde já para felicitar a inédita e inaudita iniciativa da claque principal do Yamoussoukro Sport Club - clube de matraquilhos da 3ª Divisão Regional B da Costa do Marfim - , iniciativa essa que consiste em citar passagens da "Metamorfose" de Kafka de forma ritmada, durante as partidas da sua equipa) ou até num "bibelô" bonito, daqueles de cerâmica com moldura de madeira, e vou passar a dissertar, e até discorrer, todos os meus argumentos relacionados com a temática das despedidas.

Geralmente associamos a palavra "despedida" ao término de algo, ao fim, ao desenlace, ao _____ (inserir um sinónimo qualquer aqui, de modo a "encher chouriços" com cultura). Mas o que me preocupa no meio disto tudo é a verdadeira razão das pessoas pensarem em "despedidas". Vamos a um exemplo, ou a uma quantidade enorme deles:

1. As despedidas de solteiro.
Nestes eventos é celebrado o fim da "solteirice" de determinado indivíduo ou indívidua (esta palavra deveria ser usada mais vezes). E como é que eles festejam? Bebidas, música e strippers, mais coisa menos coisa. Podia dizer mais sobre isto, mas deixo para um próximo post, dedicado exclusivamente a este evento.

2. As despedidas do emprego (ou seja, quando a pessoa ouve aquela frase tão simpática "Está despedido!").
Infelizmente estes eventos acontecem cada vez mais no nosso país, mas felizmente os portugueses são um povo bem-disposto e buscam o melhor destas situações, ou pelo menos uma forma de se abstrair dos problemas decorrentes de tal situação. E o que é que fazem? Recorrem às bebidas, à música e às strippers, ou/e preferencialmente uma combinação destes três elementos.

3. As outras despedidas
E arrumo aqui os exemplos - este abrange os outros tipos de despedida, nomeadamente a despedida de um grupo de amigos, a despedida da família quando as pessoas decidem emigrar... basicamente sempre que deixamos de conviver com determinada pessoa/grupo de pessoas afins ao mesmo ideal, e até mesmo com objectos aos quais conferimos um valor estimativo.

Eu conheço algumas pessoas que dizem não gostar das despedidas, porque isso implica necessariamente o fim de algo. Eu não partilho muito essa opinião. Quer dizer, é evidente que a saudade, embora só exista como palavra na língua portuguesa, é um sentimento universal e não podemos deixar de ficar um pouco tristes, mas o mundo não acaba necessariamente aí. Somos um ser social e precisamos dos outros para o nosso equilíbrio, mas se nos fecharmos sempre que nos despedimos de algo, nunca teremos a presença de espírito suficiente para deixar que os outros possam chegar perto de nós e dizer "Olá!". E o "Olá" (espero ganhar algum patrocínio por esta publicidade) é o começo de tudo.
E porque é que nos preocupamos tanto com a forma como fazemos as despedidas? Não é algo do outro mundo, se pensarmos bem, quando dizemos "Adeus" a alguma coisa, a nossa atenção focar-se-á obrigatoriamente em outras questões do nosso dia-a-dia. Dizemos "Adeus" a algo para dizer "Olá" a outras coisas. É claro que custa, mas por vezes os buracos mais difíceis de sair são aqueles que nós próprios cavamos. Por isso dá jeito ter sempre à mão uma escada e um telemóvel.

Na minha opinião, nós só fazemos as despedidas como um pretexto para dizer aquilo que sempre pensamos das outras pessoas, mas nunca dissemos, com medo de não ser bem interpretados. E porque é que não o dizemos mais vezes? Porque teimamos em ter medo de não saber como viver com isso depois, com a ideia que determinada pessoa sabe o que nós pensamos verdadeiramente dela... e isso é uma prova da nossa imperfeição. Podia falar das pessoas que pintam quadros de perfeição da pessoa da qual se despedem só para evitar pensar sobre ela e para evitar fazer frente-a-frente as críticas que sempre fez nas suas costas, mas essas pessoas não suscitam qualquer interesse da minha parte.

É óbvio que existem despedidas que não podemos evitar. A vida em sociedade é constituída por indivíduos, cujas vidas seguem ritmos diferentes, e é impossível acompanhar todos ao mesmo tempo, preservando o nosso ritmo pessoal. Em relação a essas despedidas, ficam os momentos partilhados e as lições que aprendemos e demos a aprender com o nosso convívio.





É um ciclo.





E hão-de existir sempre o álcool, a música e as strippers.



Até à próxima.




Tenham medo. Muito medo.




Mas não precisam de dizer adeus.

2 comentários:

B disse...

É só nostalgia por acabar o curso! Só por causa disso até escreveste um post medianamente sério. Venha a Queima!

Filipa Moreira disse...

"Adeus, para sempre adeus..."
É a segunda vez hoje que te escrevo uma parte deste poema... ;)

Posso acrescentar um pormenor? Nas despedidas de solteiro há sempre aquela parte muito explorada na ficção: toda a gente sabe o que lá se passa, mas há sempre alguém que se lembra de fazer uma cena de ciumes...

Quanto às despedidas, é triste, mas não podemos evitar. Vamos pelo menos manter um sorriso no rosto... Não dizemos o que sentimos dos outros porque:
1.Não temos a certeza do que sentimos
2.Não sabemos o que virá do outro lado, e por vias das dúvidas mais vale não arriscar...