quinta-feira, julho 17, 2008

Dia 52 - E chegou, chegou a... - Parte I

Aviso prévio aos leitores: este texto vai ser grande.

Hoje vou tentar escrever sobre alguma coisa, para variar. Há coisa de uns dias atrás estive presente numa cerimónia à qual algumas pessoas chamam de "casamento". E não é novidade nenhuma que se há um sítio propício para que coisas estranhas existam, o casamento é um grande candidato. "E por onde começar?" - pergunto eu aos meus botões.

Como eles não respondem, vou começar pela primeira coisa que me vier à cabeça.

Pensando bem é capaz de ser melhor começar pela segunda coisa que me vier à cabeça, dado que a ideia de uma roda cúbica interessa a muito pouca gente (eu incluído).

O casamento é uma festa. Que geralmente começa com toda a gente, menos os noivos, porque é suposto estar lá toda a gente à espera dos ditos. Mas até agora tudo bem, nós já sabíamos com que contar quando recebemos o convite. E lá está algo que é bastante interessante.

Comecemos então pelo convite. Geralmente é-nos entregue um envelope todo jeitoso no qual está um papel de elevado grau de "catitice" anunciando a data e local do casamento, assim como os principais intervenientes, ou seja, a sub-gerente do departamento de afiação de lápis e o senhor que escolheu as cortinas. Alguns destes convites optam por uma via mais alternativa e radical e, imitando aqueles tipos que teimam em contar o fim do filme quando este ainda vai a meio, escarrapacham ali o nome dos noivos, para grande surpresa de quem recebe o supra-referido documento. O convite em si não tem nada de especial, e brincar com este assunto pode parecer parvo (e é mesmo) mas há algo que persiste na minha mente:

- Se as osgas um dia ganhassem asas e decidissem dominar os céus no geral e o comércio de pêssegos no particular, será que o programa espacial europeu teria de ser modificado ou ficaria apenas permitido o seu acesso aos cidadãos com televisão por cabo?

Após o convite é suposto dizermos se vamos ou não. Para efeitos pedagógicos (ou talvez não, porque aqui não se aprende nada), vamos supor que dizemos que sim.

E lá vamos nós. E o dia do casamento é aquele dia em que sabemos que vamos ter de sair de casa com um aspecto algo cuidado. Eu estive a investigar sobre este assunto e um especialista na matéria disse-me, e cito: "Por favor não me deixes cair da varanda abaixo, o dinheiro está na mesinha do telefone. E já agora, o aspecto algo cuidado necessário para irmos a um casamento deve variar de acordo com o gosto da pessoa, mas algo que não leve a que sejamos baleados ou confundidos com um canteiro geralmente basta para sermos aceites. Aaaaaaaaaaaaaaah.... "

Se formos um gajo (como é o meu caso), lá procuramos um fato que esteja limpo e/ou que não cheire assim tão mal (o que geralmente é fácil, se não tivermos assim tantos fatos, como é o meu caso), engraxamos os sapatos, fazemos a barba, penteamos o cabelo, damos de comer ao cão, à iguana, ao gato e ao perú, tomamos o pequeno-almoço, lavamos os dentes e depois de estarmos vestidos e preparados para sair vamos ter com as senhoras (mãe, tia, namorada, avó, amigo com gostos "alternativos", etc...) que nos acompanharão à cerimónia, que acordaram 2 horas antes de qualquer ser vivo no planeta e se dirigiram ao cabeleireiro para tratar do penteado, das unhas, das sobrancelhas, das pestanas, das orelhas e de outra coisa qualquer que entretanto se lembrem, isto depois de terem passado mais ou menos uma semana a escolher a sua indumentária para a ocasião, nomeadamente, brincos, sapatos, vestido, lenço, o perfume, etc, etc e etc... e ainda etc.

E quando chegamos ao local e começamos a cumprimentar as pessoas que já lá estão, surge o primeiro grande problema: É raro conhecermos toda a gente. E convivemos regularmente com uma pequena parte das pessoas que conhecemos. O que nos obriga a recorrer à dita conversa de ocasião, geralmente subordinada à temática das pescas e do clima, assim como ao desempenho desportivo do nosso clube em determinado embate ou mesmo no geral. E se tudo isto falhar, podemos sempre optar pela crítica da situação política actual, nomeadamente com frases do género: "Isto é sempre a mesma coisa, pá. Quando estão em campanha prometem mundos e fundos e depois não fazem nada. Só querem o poleiro, os bandidos, pá!" - O substantivo "pá" dá bastante jeito, porque não queremos admitir que não nos lembramos do nome da pessoa com quem estamos a falar... mas continuando.

Após algum tempo, que varia na ordem dos minutos, chega o noivo. Cumprimentamos o rapaz com o mesmo olhar que damos ao presidiário no dia da sua última refeição e este, após os abraços e beijinhos dirige-se para junto do padre ou do senhor do Registo Civil. O noivo é geralmente posto em segundo plano, porque até ele espera pela noiva. Dizem que isso tem raízes culturais. Deve ser por isso que todos nós criamos raízes enquanto esperamos pela chegada da noiva, que varia na ordem das horas. Algumas pessoas não conseguem esconder o seu alívio quando a noiva chega e até batem palmas. E para disfarçar dizem: "Está tão linda."

À frente da noiva vai o único miúdo(ou míuda) que não faz a mínima ideia de onde está: o menino das alianças. Estou para ver o que acontece se um dia o puto começar a fugir nessa altura. Deve ser por isso que só escolhem crianças de pouca idade para fazer isso. Têm pernas pequenas e não chegam muito longe.

- Enquanto a noiva caminha para o altar, é posta a tocar a "Marcha Nupcial", originalmente composta por Wagner para a peça (ou lá que seja o nome a que dão a estas coisas) "Lohengrin". Há quem diga que existem algumas semelhanças com a marcha fúnebre de Chopin, o que não deixa de ser giro, porque há alguma coisa que acaba naquele dia, nem que sejam os lenços de papel das apelidadas "choronas". -

A cerimónia então começa, geralmente nesta altura não consigo ouvir o que o senhor está a dizer aos noivos, porque estou atrás da primeira fila, mas deve ser algo importante. E após aquela conversa, o orador lá decide aumentar o volume da sua voz para dizer

- "(inserir nome do noivo), aceitas a (inserir nome da noiva) como tua legítima esposa?
Noivo - Pode ser.

- "(inserir nome da noiva), aceitas o (inserir nome do pobre do noivo) como teu legítimo esposo?
Noiva - ...

E aqui alguns sustêm a respiração, porque a noiva pode dizer que não. Pode? Isso até acontece nas novelas e em alguns filmes, mas na vida real... hmmm... não me parece. A festa não é assim muito barata e convidar aquela gente toda para dizer "Não" é um desperdício de acepipes.

E então eles casam. Todos batem palmas e atiram o arroz aos noivos, a representar os desejos de prosperidade e fertilidade ao novo casal. Eu acho que, tendo em conta o preço dos cereais, seria recomendado atirar o arroz... dentro do pacote. Os noivos podiam não gostar, mas era giro. E económico.

Depois, o "copo de água".

Mas isto fica para o próximo capítulo, publicado já de seguida.

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