quarta-feira, julho 08, 2009

Dia 69 - pelas baleias que cruzavam oceanos...

Hoje vou fazer uma pequena pausa nos contos do investigador (por falar nisso, está a correr bem, esperem novidades antes do fim do mundo) e vou escrever sobre outra coisa.

Não gosto de lentilhas.

O que me faz lembrar de outra coisa pela qual não nutro grande afeição (leia-se "gostaria que fosse erradicado para todo o sempre da face da terra, assim ao jeito do que aconteceu com os dinossauros quando chegou o meteoro ou lá o que foi, e qualquer das maneiras limpou com o assunto, mas neste caso em específico seria agradável que não restassem quaisquer resquícios de alguma vez ter existido tal coisa, seria um daqueles assuntos - pausa para respirar - do qual jamais se falaria nas mesas de café entre amigos, ou mesmo de pé quando se vai pagar a conta, se preferirem.". E o que é tal coisa, perguntam-se ,com ansiedade evidente nesses olhinhos mai' lindos?

É do playback.

O playback está para a música como a Peste Negra está para o sistema de saúde. Dá jeito para arranjar clientes, mas acaba mal. E o cheiro é semelhante.

Nota aos leitores constipados e/ou sem capacidade olfactiva: É algo mau. E arranjem um lenço.

Não tenho grande paciência para procurar a informação necessária para resumir a origem e história do playback, por isso vou inventar. E se concordarem com alguma coisa que eu escreva, levantem os polegares em apreço na direcção do monitor, ele agradece.

- A história do playback -

Playback nasceu nas encostas de um desfiladeiro algures num sítio longínquo, filho de um pai e de uma mãe, como manda a longa tradição de seres que nascem em desfiladeiros. Antes de aprender a andar e a usar chapéu, caiu. De cabeça.
Tinha dois irmãos, que partilhavam esse facto entre eles.

Um dia caiu-lhes uma lentilha gigante em cima. Plena de mau-feitio e com forte aroma a alho, segundo consta.

Fim.

Agora a sério(?), o playback - para não repetir incessantemente a maldita palavra vou intercalá-la com os termos "bolinhas", "bigode" e "peculato" - é usado com frequência nos programas televisivos, galas e afins. Será desnecessário dizer em que consiste, por isso mesmo vou aproveitar esse espaço para falar dos hábitos migratórios dos nossos amigos cetáceos, as baleias:

"No Oceano Pacífico, as baleias jubarte migram ao longo da costa americana até o Havaí retornando para as mesmas áreas ano após ano. Elas tendem a migrar com a troca das estações tirando proveito das águas mais quentes em direcção ao Equador durante os meses mais frios e da grande quantidade de alimento no Árctico durante os meses mais quentes. A maioria das espécies não migra regularmente em direcção ao Equador, então devem existir grupos separados de cada espécie no hemisfério sul e no hemisfério norte" - in um site que o google disse.

Voltando ao bovino frio, não é raro vermos cantores - que provaram por A mais B (haverá expressão mais estranha que esta? Decerto que sim, mas de momento ocorrem-me poucas) que sabem cantar, acompanhados de músicos - dos quais se consta que possuem alguma habilidade a tocar o seu instrumento (e por vezes o instrumento alheio, mas isto sou eu a especular), num palco dotado de instrumentos musicais, microfones e de um sistema de som funcional.

O que falta aqui?

Sim, provavelmente têm razão, não ficaria mal um bom cabide de pinho no canto ou mesmo um yeti professor de aeróbica em part-time a tratar das coreografias.

Facto:
Eles estão lá - sim senhor.

A minha suspeita:
A vontade de trabalhar realmente - nem por isso.

A solução passa então por ouvirmos o que gravaram previamente num estúdio. Chegamos mesmo a ouvir certos instrumentos que não estão lá e vozes de coristas que ficaram em casa ou foram ao dentista para um tratamento endodôntico. E os virtuosos presentes decidem FINGIR que CANTAM e TOCAM, plenos de sentimento e, na iminência do solo, alguns não resistem a abanar as cabeças e a fechar os olhos em êxtase.

Pois bem, agora a consternação:

Se eu quisesse ver um grupo de totós a fingir alguma coisa eu via um jogo do slb, aí estão 11 a fingir que sabem o que estão a fazer (é só mudar o clube para não se sentirem ofendidos, queridos lampiões - aqui também podem trocar o epíteto por qualquer outro, oh papoilas saltitantes e susceptíveis).

Críticas fáceis e acessórias à parte, apesar de todas as qualidades que se lhes possam ser atribuídas, o meu lado racional e bonzinho (cuja principal função é impedir os insultos que no meu âmago assomam de, basicamente, assomar) leva-me a concluir que as pessoas que recorrem ao bolinhas não devem perceber a figura triste que fazem. Ou então gostam.

Já imaginaram se outros profissionais utilizassem o bigode na sua prática profissional diária?

Esposa de paciente - Sr. Doutor, vai demorar muito até o meu Geraldo voltar a andar de bicicleta?

Doutor - Não se preocupe, a operação foi um sucesso. São os melhores pontos a fingir que alguma vez vi. Mas fazemos assim, se ele tiver dores coloque o dvd e diga-me alguma coisa.

O peculato é ainda usado como meio de ultrapassar maleitas físicas dos cantores, com vista a preservar a sua integridade artística. É frequente repararmos na voz anormalmente rouca ou nasalada do vocalista (excluo desta análise o Olavo Bilac, porque estou a falar de música a sério) quando este responde a uma pergunta dos apresentadores, note-se, com outro microfone - como quem quer retirar as suspeitas de quem pensa que ele cantou mesmo. Nestes casos, até posso concordar com o uso do bolinhas.

Posso? Não, não posso. Se eles não estão aptos a fazer o trabalho deles, não o façam. Ou poupem as vozes para não precisarem do "cdzinho" com a música que vão interpretar.

E aqui está a ressalva para os justos:

Existem ainda aqueles que não têm outra forma de mostrar o seu trabalho senão recorrendo ao bigode; Certos programas televisivos alegam não ter meios de suportar uma interpretação ao vivo e por isso dizem aos tipos para imitar o que fariam se actuassem ao vivo - mas sem suor porque isso dá cabo da maquilhagem. Nesses casos desvio o canhão da minha ira dos músicos e aponto com toda a acuidade para os responsáveis pelos programas.

(Mais uma vez o lado razoável) Deixem de gozar com a inteligência dos espectadores. A sério (seus energúmenos acéfalos e não sei quê - o outro lado).

Decerto haveria muito mais para dizer, mas agora não me apetece. Se quiserem acrescentar algo a isto, ou se ainda estão a digerir a piada inofensiva à filiação benfiq... perdão, aos tipos que gostam dos senhores de verm... perdão, dos senhores de rosa muito escuro, então sintam-se à vontade para se manifestar na zona indicada para o efeito.

Tenham medo. Muito medo.

1 comentário:

Sara disse...

Genial até para mim que sou adepta dos senhores de rosa muito escuro =P